Sociedade

ULS da Guarda reduz 16 camas e encerra Unidade de Cuidados Intermédios de Cardiologia

Escrito por José Daniel

A entrada em vigor da lei das 35 horas semanais veio comprometer o bom funcionamento dos serviços na ULS da Guarda por falta de enfermeiros

Para colmatar a escassez de recursos humanos, agravada pela redução da carga horária de 40 para 35 horas, a oferta assistencial na Unidade Local de Saúde (ULS) da Guarda foi temporariamente ajustada com a redução de 16 camas em vários serviços e o encerramento da Unidade de Cuidados Intermédios de Cardiologia.

A ULS reduziu seis camas no serviço de Pneumologia, quatro no serviço de Cirurgia e igual número no serviço de Ortopedia, uma de Otorrinolorangologia e outra cama de Oftalmologia, e procedeu à «deslocalização das restantes seis camas para o próximo serviço de Ginecologia». Com o encerramento da Unidade de Cuidados Intermédios de Cardiologia, o Serviço de Medicina Intensiva passa assim «a assegurar as situações de necessidade na área, nas camas de cuidados intermédios que lhe estão alocadas». De acordo com a ULS da Guarda «não foi necessário ajuste nos tempos cirúrgicos nem nas Consultas Externas», garantindo que «não há serviços hospitalares em risco de fechar».

Para o dirigente do Sindicato dos Enfermeiros Portugueses (SEP) a redução das 40 para as 35 horas foi «uma vitória» e sublinha que «o problema estrutural da carência de enfermeiros já existia» antes da entrada em vigor dos novos horários. «A injustiça era mais profunda porque eram horas trabalhadas sem serem remuneradas, ou seja, os trabalhadores estavam a fazer o horário de trabalho de 40 horas e a receber a remuneração base dos que exerciam funções de 35 horas», explicou Honorato Robalo, lembrando que «a solução da uniformização demorou, mas a convergência à esquerda nessa proposta é significativa e salientamos como positiva». Ainda assim, o sindicalista mostra-se preocupado com o facto do Governo não ter «tomado medidas imediatas» na contração de profissionais e reforça que o objetivo do SEP «não é reduzir a oferta pública de cuidados de saúde». «É imperiosa a contratação imediata de, pelo menos, 40 enfermeiros [para a ULS da Guarda]», defende Honorato Robalo.

Carência de enfermeiros pode afetar qualidade dos serviços de saúde

«Há alguns anos a esta parte que o SEP vem denunciando a grave carência de enfermeiros que se verifica na ULS da Guarda e tem alertado para as consequências gravosas na qualidade dos serviços de saúde que são prestados, para além da redução dos serviços que a população terá ao seu dispor», é referido pela Direção Regional da Beira Alta do SEP em nota de imprensa. Para os responsáveis «este e os anteriores Governos têm preferido olhar para o lado», colocando «em causa uma obrigação que lhes cabe como Função Social do Estado» que é a garantia da prestação de cuidados de saúde à população.

A informação fornecida pela ULS da Guarda e pela Direção Regional da Beira Alta do SEP não coincide. Enquanto a ULS diz que vai encerrar 16 camas em vários serviços, a Direção Regional do SEP afirma que encerrarão cerca de 30 camas no Hospital Sousa Martins e três no Serviço de Internamento de Curta Duração do Hospital Nossa Senhora da Assunção, em Seia. «Com esta decisão, só no Hospital Sousa Martins encerra a Unidade de Cuidados Intermédios Coronários mais quatro camas de internamento no Serviço de Cardiologia, seis camas no Serviço de Pneumologia, oito camas no Serviço de Ortopedia, oito camas no Serviço de Cirurgia e duas camas no Serviço de Pediatria», é explicado. A direção do SEP vê esta situação com «grande desagrado e extrema preocupação»: «As consequências são gravíssimas para uma população do interior, que fica com uma grave redução da oferta em cuidados de saúde que, já por si, tinha grandes debilidades», é acrescentado. Face aos acontecimentos, o SEP volta a exigir a contratação imediata de enfermeiros «para que esta população não fique, uma vez mais, prejudicada pelas opções políticas dos sucessivos Governos».

Álvaro Amaro acusa Governo de «irresponsabilidade política»

O presidente da Câmara Municipal da Guarda mostrou-se muito preocupado com a decisão da Unidade Local de Saúde (ULS) em ajustar a oferta assistencial no Hospital de Sousa Martins para «fazer face à escassez de recursos humano». «A mim preocupa-me muito enquanto presidente da Câmara da Guarda, e preocupa-me muito enquanto político e enquanto cidadão deste país», disse Álvaro Amaro. Para o autarca da Guarda, que também é presidente dos Autarcas Social-Democratas (ASD), «é de uma grande irresponsabilidade política», em termos nacionais, «o baixar para as 35 horas sem terem avaliado as consequências e sem terem as soluções de modo a evitar esta situação do fechar de camas e do eliminar de camas». «Acho que é um preço muito caro que estamos a pagar por uma irresponsabilidade política», afirmou. Para o presidente da Guarda, uma atitude politicamente responsável definiria que seriam concedidas as 35 horas e, no caso concreto da saúde, haveria um aumento de «não sei quantos mais profissionais». «É isso que eu considero uma absoluta irresponsabilidade. Porque, não se tendo feito isso, vamos assistir ao encerramento de camas. Ora, se isso é mal no país, então nos nossos territórios do interior, eu acho que é um desastre completo», concluiu.

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José Daniel

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