Durante sete bons anos foi a companhia do meu pai. Costumávamos ouvi-los conversar (ou lá o que era aquilo) e a coisa parecia sempre animada. Não me lembro de alguma vez os ter visto discutir e punha as mãos no lume em como se encobriam um ao outro, nas zombarias que iam fazendo.
Era um cão muito amigo e paciente, mas também era elétrico e mimado e estava sempre cheio de fome! Dava a volta ao jardim lá de casa enquanto o diabo esfregava um olho e, ainda antes sequer de se esperar, lá estava ele a olhar para nós. Conhecia perfeitamente o som dos motores dos nossos carros, a sonoridade das nossas buzinas, o ruído do nosso portão e, ainda de forma mais apurada, o barulho do saco da sua ração. Colocava o seu melhor ar de cachorro abandonado quando chegava a hora de sairmos todos e de ele ficar em casa, mas, em contrapartida, quando chegava a hora dele dormir, ignorava tudo à sua volta! Odiava fotografias e por mais tentativas que se tenham feito (e se se fizeram!) nunca o conseguíamos manter parado a fitar a lente da câmara fotográfica. Também não sabia andar de carro, achava ele que o lugar de um cachorro é sempre aos pés do dono – ignorando por completo a existência ou utilidade dos pedais! Ainda assim, sempre que se precisou da sua companhia ele nunca falhou, nunca se chamou o seu nome sem que ele deixasse de vir, jamais se falou para ele sem que ele não ouvisse ou não parecesse compreender tudo. E é por isto e por muito, muito mais, que um animal arrebata o nosso coração e nos faz querê-lo como se de um ente querido se tratasse, ao ponto de termos saudades quando ele não está e de sentirmos um vazio gigante quando ele vai embora.
Podia estar a falar de qualquer cão, mas estava a falar do meu. Chamava-se Figui.