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Touradas, Circos e Zoológicos

O recente episódio da fuga de dois tigres de um atrelado de um circo, algures para os lados da Azambuja, deveria ter trazido à baila a questão dos atentados aos direitos dos animais. É tempo de nos consciencializarmos, e incutirmos nos nossos filhos, de que, circos com animais, são espectáculos deprimentes e, ecológica e humanamente, reprováveis. Será que o leitor já se deu ao trabalho de verificar como é que estes animais são armazenados? Já alguma vez observou tigres ou leões, enfaixados uns nos outros, à torreira e em atrelados de dez metros quadrados? Sentir-se-á bem a assistir, com os seus filhos, a uma matiné sabendo disto? Ou prefere fazer como a avestruz?

E as touradas? Arquétipos do sadismo humano sobre os animais, versões aligeiradas dos circos romanos, são reminiscências caquécticas do nosso passado, vergonhoso, como povo, amante da tauromaquia. Estão, felizmente, em decadência, apesar de, algures na Gália barranquenha, esse deprimente espectáculo, em que os animais têm que morrer na arena depois de muito maltratados, ter conseguido manter-se, em nome de uma bacoca tradição, contra ventos e marés, porque alguns deputados se acovardaram, pensando nos votos, criando uma estúpida excepção, que a todos deveria envergonhar.

E os Zoológicos? Já se interrogou porque é que elefantes, golfinhos e outros animais, em cativeiro, se revoltam contra os seus tratadores? Porque será que um “estúpido” animal, com cama, mesa e roupa lavada, morde na mão que o alimenta? A resposta parece-me óbvia, porque anseiam pela liberdade, porque estão FARTOS de servirem de instrumento de diversão humana; porque estão fartos de estar confinados a tanques pintados de azul ou a jaulas cimentadas e à esturra; porque o seus instintos lhes dizem que nasceram para percorrer milhares de quilómetros quadrados de savana, estepe, selva ou oceano. Zoológicos como o de Lisboa deveriam acabar. Só fazem sentido aqueles que tiverem uma vertente eminentemente conservacionista, reprodutora de espécies ameaçadas, virados para dentro, protegendo-as do público, com financiamentos estatais ou do mecenato, que devolvam aos ecossistemas as espécies criadas em cativeiro, porque é lá que fazem falta.

Nesta questão, nem o oceanário escapa, porque não passa de um zoo aquático. Apesar de se inserir numa vertente mais conservacionista, peca por exibir duas lontras, Amália e Eusébio. Estes mamíferos com algum grau de inteligência, estão confinadas a um pequeno tanque e despojadas de qualquer privacidade, exibindo um ar deprimido. Basta uma imagem como esta para se perceber a razão da não-existência destes espaços, abertos ao público.

Como cantaria Miguel Ângelo: “Soltem os prisioneiros, Soltem os prisioneiros!”

Por: José Carlos Lopes

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