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Há mais bombeiros voluntários, mas menos disponíveis

Necessidade de «reinventar» voluntariado foi uma das conclusões do Fórum Nacional realizado em Pinhel

Contrariamente à opinião generalizada, o voluntariado nos bombeiros não está em crise. No entanto, o tempo de serviço de cada voluntário diminuiu substancialmente. Este foi um dos temas abordados no Fórum Nacional do Voluntariado nos Bombeiros Portugueses que decorreu no último sábado em Pinhel. A iniciativa juntou, segundo números da organização, 500 “soldados da paz” de todo o país.

De acordo com Duarte Caldeira, nos últimos três anos, o número de novos voluntários que ingressaram nos corpos de bombeiros foi superior «aos ingressos verificados no triénio anterior e o número de demissões diminuiu no mesmo período». Contudo, também há registo de que «78 por cento dos serviços prestados pelos bombeiros», no período diurno das 8 às 20 horas de segunda a sexta-feira, são assegurados por pessoal «remunerado», acrescentou o presidente da Liga dos Bombeiros Portugueses (LBP). Por outro lado, o voluntariado continua a ser «determinante na esmagadora maioria dos corpos de bombeiros do país, à noite e durante o fim-de-semana», constatou. «Há mais voluntários, mas menos disponíveis» para assegurar um milhão de serviços de emergência por ano e 1,5 milhões de transportes de doentes por ano, concluiu. Segundo o dirigente, não é verdade que as associações não tenham capacidade de atrair juventude e voluntários. «O que realmente reduziu foi o tempo de serviço de cada voluntário, ou seja, a sua disponibilidade», por força da actividade profissional por conta de outrem.

Por isso, Duarte Caldeira defende a «profissionalização mínima como uma inevitabilidade». O que, na prática, se traduziria na criação de equipas de intervenção permanente, «através de uma parceria entre administração central, local e as respectivas corporações, dando assim segurança às populações», explicou. O presidente da LBP defendeu ainda que é necessário «reinventar o voluntariado, afirmando-o com convicção», já que os portugueses «não podem continuar a querer dispor do voluntariado nos bombeiros, como quem dispõe de mão-de-obra barata». Até porque «ser voluntário não pode significar amadorismo no exercício da missão. Tem que significar a mesma segurança, independentemente do corpo de bombeiros ou do vínculo laboral do agente que presta serviço», argumenta. Nesse sentido, considera que não pode ser bombeiro voluntário «quem não se dispuser a aprender para ser profissional na acção», pois «só a boa vontade e o desejo de emprestar algumas horas à comunidade já não são, hoje, suficientes».

Congratulando-se por o Fórum ter sido realizado no «país real, no interior», garantiu que a situação de Alijó poderia acontecer «na Guarda, Vila Real ou em qualquer outro ponto do país». O presidente da LBP aproveitou para recordar a falta de redes hospitalares que sirvam as populações de vários municípios do interior: «Os bombeiros estão disponíveis para protocolar com o Instituto Nacional de Emergência Médica a criação das condições adequadas para responder às necessidades de socorro», sublinhou.

Ricardo Cordeiro

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