O Politécnico da Guarda é a mais importante instituição do distrito. Cerca de 10 por cento da população ativa do distrito da Guarda exerce uma atividade profissional atribuída à presença do IPG. E os graduados pelo Politécnico terão um impacto superior a 13 milhões de euros na Guarda e de quase três milhões em Seia (segundo um estudo de 2013, hoje, porventura, o impacto será ainda maior).
Ou seja, a relevância do Politécnico da Guarda na região é extraordinária. A Guarda, sem o IPG, estaria condenada a um definhar ainda mais vertiginoso e célere. É precisamente por isso que na passada semana ficámos perplexos com as declarações do ainda presidente do IPG ao jornal “Público”. «No Politécnico da Guarda luta-se pela sobrevivência», concluiu o jornal, depois de ouvir um Constantino Rei vergado perante as circunstâncias, de braços caídos e incapaz de ousar ou defender a instituição, de definir um rumo ou ter ideias para o futuro. Depois de cinco anos silenciado sobre o plano do anterior governo de uma putativa integração dos politécnicos da Guarda e Castelo Branco na Universidade da Beira Interior, e acossado pelas perguntas do jornalista, Constantino Rei vê apenas um caminho, entregar o IPG à UBI – obviamente que essa é uma opção válida, mas como escolha de um caminho de crescimento, devidamente sustentado e com uma estratégia concertada, não como tábua de salvação. E menos ainda num momento em que o IPG está a debater o presente e futuro, com três candidaturas a concorrer às eleições para a nova direção da instituição. (Declaração de interesses: Colaborei com a presidência do IPG, no primeiro semestre de 2012, na construção de uma nova estratégia de comunicação – elaborando, nomeadamente, o Plano de Comunicação e a conceptualização da nova imagem, a redefinição de uma estratégia pública dinâmica e ambiciosa, aportando ações empreendedoras e de abertura da instituição à comunidade, promovendo uma nova energia e rompendo com a letargia reinante ao longo de anos). Infelizmente, as declarações de Constantino Rei são um regresso ao passado, como se carregasse um fardo de que se livrará nas próximas eleições.
O facto de o IPG ter sido a instituição de ensino superior com maior descida de novos alunos comparativamente ao ano anterior – menos 22 por cento – é “terrível”. E se a maioria das instituições teve menos novos alunos face ao período homólogo, nenhuma perdeu tantos como o Politécnico da Guarda. Se há 20 anos o IPG tinha 4.200 alunos, hoje tem pouco mais de 3.000, mas, apesar disso, e mesmo considerando que foi o estabelecimento de ensino superior com maior queda a nível nacional, a aposta na captação de alunos estrangeiros (neste momento são já mais de 400 que frequentam o Politécnico da Guarda) é um caminho, de resto defendido pelos três candidatos. E, ao contrário do que disse Constantino Rei, há algumas áreas estratégicas onde o IPG pode ser muito forte em termos de formação, como o “cluster” automóvel (com o desenvolvimento do centro tecnológico e o envolvimento da fileira industrial do sector instalada na região) ou as novas energias e o ambiente. Mas também outras áreas de formação tecnológica ou o turismo (com a reabertura do Hotel de Turismo, cujo futuro deve ter um cariz temático, nomeadamente num contexto de bioclimatismo, ambiente e saúde).
“Voar mais alto” foi o “claim” que deixei no IPG em 2012, passados estes anos, e percebendo as dificuldades que o Politécnico enfrenta na captação de novos alunos, não duvido que qualquer dos candidatos e as suas equipas saberão procurar o melhor caminho para regenerar a instituição. E que as palavras de descrença do ainda presidente tenham sido apenas um desabafo que desassossegou a comunidade, mas sem outras consequências, sem intranquilizar o corpo docente e discente e os alunos que são quem mais e melhor pode elevar o nome, o prestígio e a qualidade formativa do IPG.
Se é verdade que as instituições de ensino superior são vitais para o desenvolvimento do país, são-no por maioria de razão para o interior: as universidades e politécnicos são centros de saber e investigação e são também polos geradores de riqueza e progresso inigualável. É assim com o IPG na Guarda; é assim com a UBI na Covilhã.