O papel fundamental da água

Escrito por António Costa

H2O. A fórmula famosa do líquido mais abundante do planeta parece muito simples. E, no entanto, a sua formulação química esconde propriedades sem as quais a vida não teria sido possível.
Vejamos o curriculum vitae da água para lhe conhecermos os talentos.
“Sou bipolar”, assim poderia iniciar-se a apresentação desta molécula. O que significa que os seus três pequenos átomos, um de oxigénio de dois de hidrogénio, se ligam de maneira assimétrica de uma forma tal que a molécula fica ligeiramente carregada, com uma carga positiva de um lado e uma carga negativa no lado oposto. Isso permite-lhe dissolver substâncias iónicas como o sal, um processo químico imprescindível à existência dos oceanos.
“Estabeleço pontes de hidrogénio”, continuaria a exposição das capacidades aquosas. As moléculas de água interagem umas com as outras mediante uma forma de ligação especial e muito forte chamada ponte de hidrogénio. Cada molécula de água pode estabelecer pontes de hidrogénio com outras moléculas de água dando lugar a uma estrutura em rede muito ordenada. E o que as pontes de hidrogénio unem é difícil de separar. Na água verifica-se a máxima de que a união faz a força. Quebrar as numerosas pontes de hidrogénio de uma massa de água requer muita energia, e isso explica que tenha um ponto de ebulição mais elevado. Esta é a razão pela qual a água é líquida no vasto intervalo de temperaturas em que se produzem as reações da vida. As pontes de hidrogénio também justificam que a água seja o melhor regulador da temperatura de qualquer organismo. A água mantém-lhe a temperatura constante, não importando o ambiente nem a atividade metabólica.
“Dotes para dirigir a dobragem das proteínas e a formação de estruturas essenciais para as células”, continuaria o curriculum da água. E, mesmo quando interage com substâncias que a repelem, tem um papel importante, atuando como o regente de uma orquestra. Por exemplo, é isso que acontece durante a formação das membranas celulares. Estas compõem-se de fosfolípidos que num dos seus extremos contêm estruturas que são atraídas pela água (hidrofílicas, na gíria dos químicos) e, no extremo oposto, estruturas que a repelem (hidrofóbicas). Quando um grupo de fosfolípidos é vertido na água, a parte que é atraída pela água fica voltada para fora e a parte que repele fica virada para dentro, frente a frente com outra fila semelhante que garantem a proteção do conteúdo da célula.
A água também é necessária para que os componentes da vida, as proteínas, possam dobrar-se. Além disso, sem água, a hélice dupla de ADN, o código em que está escrito o livro da vida, não poderia existir. Face a esta enumeração de propriedades, a dependência que os seres vivos têm da água está mais do que justificada.
O certo é que a água continha a amálgama de rochas a partir das quais se formou a Terra e se evaporou em consequência das altas temperaturas alcançadas durante a sua gestação. A Terra veio ao mundo completamente seca. O que a levou a converter-se num planeta com 70% da superfície coberta por água?
Tudo indica que as massas aquosas terrestres provêm de asteroides e meteoritos que a bombardearam no princípio da sua história. Na sua maior parte, tratou-se de condrites, isto é, meteoritos que não contêm metais.

Sobre o autor

António Costa

Leave a Reply