O hipercentralismo do Governo dos sentados em Lisboa regressou… E agora?

Escrito por Ana Mendes Godinho

« Sabemos que a nossa força vem dos nossos genes, nas nossas serras, dos nossos rios.
A nossa força é feita de resistência e convicção, porque sabemos e demonstrámos que é possível. A nossa força é feita de História com Futuro.
Os comandos perdem as pilhas.
Os Guardenses não. »

Rajadas fortes têm fustigado o interior. Será chuva, será gente?
Podia ser a neve, mas a neve não arrasa assim.
Será talvez o preconceito de quem ignora o país para lá de Lisboa.
Será talvez o equívoco de quem assume que a corte sabe-tudo e o resto é paisagem. Ou é mesmo o genuíno desconhecimento de que é preciso muita força e foco político para contrariar as forças centrífugas inebriantes. Porque as forças centrífugas são naturalmente sugadoras.
É fácil? Não. Exige uma vontade e uma convicção real de que é necessário construir em conjunto no terreno, com os olhos postos na terra, nas muitas realidades distintas, que precisam de respostas concretas diferenciadas para o que é diferente.
Nos últimos anos demonstrámos que, contra o hipercentralismo histórico, foi possível voltar a construir com os olhos postos aqui e com a inspiração do terreno:
– A criação na Guarda o primeiro porto seco em Portugal
– A instalação na Guarda do comando nacional da Unidade de Emergência de Proteção e Socorro da GNR
– A requalificação do Hospital Sousa Martins e de centros de saúde em todo o distrito
– O investimento de 32 milhões de euros no distrito da Guarda em novas respostas sociais para crianças mais velhos e pessoas com deficiência
– A modernização e reabertura da Linha da Beira Baixa
– A renovação integral da Linha da Beira Alta
– A abolição das portagens nas autoestradas que voltam a ser verdadeiramente sem custos para o utilizador (SCUT)
– A diminuição do IVA na eletricidade, para baixar o custo da energia
– A aprovação do Plano de Revitalização do Parque Natural da Serra da Estrela
– O programa de valorização do Turismo no Interior, com um impacto transformador que abriu o mapa turístico de Portugal
– A criação na Guarda do Centro dedicado à Economia e Inovação Social, após acordo entre os Governos de Portugal e Espanha
E, agora, com uma infinita perplexidade…
Uma funda turbação.
Entra em nós, fica em nós presa…
Assim, de repente, através de despachos e portarias – como se o país fosse uma esbatida paisagem que se comanda nos botões de um controlo remoto –, clica-se no botão “off” e tenta desligar-se o interior.
À distância, o deslumbramento das torres de marfim ignora olimpicamente que há vida, Pessoas, empresas, instituições que aqui mostram que é possível – se as deixarem ser possível.
E assim, depois dos votos contra a abolição das portagens, a redução do IVA na eletricidade, o plano de revitalização da Serra da Estrela, na incapacidade total de implementarem o “milagre” prometido na saúde, no chumbo, sem apelo nem agravo, das propostas dedicadas especificamente ao interior que apresentámos no Orçamento de Estado para 2025, incluindo medidas de discriminação positiva e a continuação do Porto Seco na Guarda, vem agora a machadada da fusão do CEIS, criado em 2023, com um centro do Algarve e a ameaça da sede e do centro de decisão irem para os corredores de Lisboa.
Despachos e portarias em controlo remoto…
O interior não merece mais uma machadada.
Para este Governo dos sentados em Lisboa, o interior é um fardo.
E a consequência é esta política de pára-arranca.
A história, infelizmente, demonstra este padrão: uns acreditam, investem estruturalmente, valorizam e discriminam positivamente os territórios do interior. Vêm outros que cancelam, encerram, desistem e carregam no botão “off” porque “não vale a pena”.
O país não aguenta mais um ciclo de hipercentralismo. As políticas públicas de catavento, orientadas para onde há mais votos e sem qualquer estratégia, são grandes causadoras das assimetrias e estão condenadas pela instabilidade que causam. Só podemos aceitar cataventos mesmo para apanhar o vento.
Por isso, mantenhamos alta a voz e a determinação. Sabemos que a nossa força vem dos nossos genes, nas nossas serras, dos nossos rios.
A nossa força é feita de resistência e convicção, porque sabemos e demonstrámos que é possível. A nossa força é feita de História com Futuro.
Os comandos perdem as pilhas.
Os Guardenses não.

P.S. Um 2025 cheio de Esperança concretizada para Todos!

* Deputada do PS na Assembleia da República eleita pelo círculo da Guarda

Sobre o autor

Ana Mendes Godinho

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