P – Começando pelo princípio, como foi essa aventura de ser candidato independente em 2021?
R – Fui ouvindo pessoas de todos os setores da sociedade civil e a reflexão que fiz foi de mais de 20 anos, de todo o meu percurso político, em que, com muito orgulho, militei num partido, mas chegou o tempo em que as decisões que os partidos tomaram – e continuam a tomar – não são os princípios pelos quais enveredei pela política. Por isso, com muitas pessoas a encorajarem-me para avançar, tomei a decisão.
P – Houve algum clique, um momento determinante para decidir?
R – Houve um ou outro clique que foram decisivos, que não vou revelar, ficarão para as minhas memórias, e a quatro meses das eleições avançámos, com muito trabalho. Agradeço muito a todas as pessoas que me acompanharam nas listas ou no apoio…
P – E acreditou mesmo que podia ganhar?
R – Sim, desde a primeira hora. Se assim não fosse ficava em casa.
P – Que balanço faz destes três anos de mandato?
R – Foram três anos de muito trabalho. Um executivo municipal com apenas três pessoas com pelouros exige de nós, eu, a vice-presidente Amélia Fernandes e, atualmente, o vereador Rui Melo, um trabalho redobrado. Nunca a Câmara da Guarda foi governada com tão pouca gente, aliás, nos últimos vinte anos ou mais, nunca tinha havido menos de cinco vereadores a tempo inteiro, portanto isto é um desafio diário. Preocupo-me em cumprir o mais possível o programa eleitoral, mas há coisas que demoram mais tempo a serem executadas e há outras que não estavam previstas e acabam por ser realizadas. Ou seja, já fizemos tanto trabalho, mas ainda continua a haver tanto para fazer, seja por força dos desafios governamentais ou pelos fundos comunitários, e esse é o desafio deste executivo.
P – O que conseguiu implementar neste mandato?
R – Houve grandes desafios desde a primeira hora, desde logo fechar o quadro comunitário anterior, o 2020. Nos primeiros dois anos executámos qualquer coisa como 20 milhões de euros, sobretudo na cidade. Os projetos que estavam adjudicados tinham a minha assinatura, do passado, e tinham que ser executados. Foi o caso da Ecovia, que ficou mais cara por causa das medidas de segurança; dos Passadiços do Mondego, que estavam muito atrasados e, num ano, conseguimos ultrapassar os imprevistos e colocar essa grande obra ao serviço da região e do país; a ampliação da plataforma logística, que concluímos – que também teve um custo acrescido porque o projeto estava mal feito – e fizemos questão de inaugurar já com empresas. Captar investimento e pessoas tem sido um dos nossos grandes objetivos. Quando inaugurámos a terceira fase fizemos questão de assinar logo contratos com 14 empresas, vendendo 30 lotes, 21,5 milhões de euros de investimento e a perspetiva de 198 postos de trabalho. Além desses, já conseguimos, de uma forma efetiva, cerca de mil postos de trabalho no nosso mandato, fruto de investimentos privados e públicos, onde podemos incluir essa grande conquista que foi a UEPS da GNR…
P – Pelo caminho ficou a instalação da fábrica de cerveja, que foi anunciada com alguma pompa e circunstância.
R – Não. Temos falado com essas e outras empresas. Há vários lotes vendidos na plataforma logística há 6, 12, 14 anos que ainda não estão construídos. Temos enviado dezenas de cartas para essas empresas e que ainda não fizeram nada.
P – A Câmara vai tomar posse desses lotes?
R – Se tiver que ser… Há um processo que está para entrar em tribunal com uma empresa, cujo nome não vou revelar, que adquiriu lotes há sete ou oito anos para pedir a reversão do terreno.
P – Uma das medidas que defendeu no seu programa eleitoral era a criação de áreas de localização empresarial. Como está essa intenção?
R – A partir de segunda-feira poderão verificar, com a entrada em discussão pública do Plano Diretor Municipal. O PDM diz muito aos 40 mil guardenses e a todas as empresas. Tem 30 anos e todos os autarcas que passaram pela Câmara tentaram fazer a sua revisão, mas, por uma razão ou outra, nunca o conseguiram. Nós conseguimos após um trabalho técnico muito intenso e negociações duras com 38 entidades. O PDM tem duas coisas muito importantes. A primeira é que praticamente todas as aldeias passarão a ter um perímetro urbano, o que significa que, dentro dessa área, não será necessário pedir pareceres a entidades externas. Segunda, quadruplicámos a área disponível para áreas empresariais, seja na envolvente da cidade, seja nessas freguesias. Caberá depois aos privados dinamizá-las.
P – A revisão do PDM será a marca de Sérgio Costa neste mandato?
R – Será uma delas, outra é a atração de empresas e os mil postos de trabalho criados, os lotes vendidos na plataforma logística, o parque empresarial da Quinta Nova, o espaço tecnológico do centro histórico, onde estão instaladas várias empresas. Isto é uma grande obra. Se outra coisa não fizesse enquanto presidente de Câmara, já me dava por satisfeito.
P – Como se pode atrair outras empresas como a Air Liquide para a Guarda?
R – Dando-lhes condições e mostrando que na Guarda podemos atrair e reter muito talento porque a qualidade de vida é inegável. A Air Liquide podia estar em qualquer outra parte do país, mas conseguimos dar-lhe essas boas condições para que viesse para a Guarda, onde já emprega 50 pessoas e no próximo ano quer chegar aos 150 postos de trabalho. É muito importante para a Guarda porque estamos a falar de mão de obra altamente qualificada. Também podemos falar da nova fábrica da Coficab, empresa que tem feito tanto pela nossa terra, e da UEPS da GNR, que se não fosse a Câmara, com a minha gestão, não estava na Guarda.
P – Houve críticas por parte de quem defendia a continuidade da escola de São Miguel, entretanto também poderá vir a acolher o Comando da GNR e assim devolver à cidade aquela zona central ao cimo do bairro do Bonfim…
R – Aprovada por dois terços da Assembleia Municipal há cerca de ano e meio, a Carta Educativa ditava que essa escola tinha que encerrar, não fui eu. No ano em que fechou tinha cerca de cem alunos e iria ter cada vez menos, portanto tomou-se essa decisão, em estreita articulação com o Comando-Geral da GNR, que teve depois o aval do Governo anterior e do atual.
P – Quantos militares tem neste momento a UEPS na Guarda?
R – Entre 70 a 80, mas no médio prazo serão 250. Uma boa parte dos autarcas deste país andava a lutar pela UEPS, mas nunca ninguém me ouviu falar nisso até que assinámos o contrato, porque é assim que as coisas devem ser tratadas, respeitando as instituições. Até ao início do próximo no Dispositivo de Combate a Incêndios estarão cá 120 a 130 militares, tendo em conta as obras em curso, além disso, há formações contínuas na UEPS. Atualmente, é a quarta escola de formação nacional da GNR, além de Queluz, Figueira da Foz e Portalegre. O objetivo é chegar aos 250 militares e o caminho está a ser feito, no recato, porque o que não queremos é que haja pessoas na Guarda a prejudicar este trabalho, como houve no passado. Iremos denunciá-las se isso acontecer. No Dia da Cidade foi assinado um protocolo com a Junta de Freguesia da Arrifana para um campo de treino da UEPS e nosso objetivo é, no médio prazo, criar as condições para que um exercício anual como o Modex, que vai decorrer no Fogueteiro (Seixal) em 2025 e envolver cerca de 600 operacionais da Europa e Estados Unidos. Estamos a falar de 30 hectares de terreno, mas se não fosse a Câmara este campo de treino iria para qualquer outro ponto do país.
P – Quanto à mudança do Comando Territorial da GNR, o que há de concreto?
R – Já falei várias vezes da necessidade de fazer a Praça da Liberdade onde atualmente está o quartel da GNR, é muito importante ter uma nova centralidade, uma nova entrada para o TMG e para o Bairro do Bonfim. Mas temos de deslocalizar a GNR para junto da UEPS e é esse caminho que estamos a fazer com a GNR e a tutela governamental, porque é um pedido da Guarda há mais de 20 ou 30 anos e o que queremos é que nos deixem trabalhar. Também estamos a procurar uma solução para a PSP, mas não posso dizer mais do isto, pois o processo ainda está longe de estar concluído.
P – Falemos das contas. A Câmara tem ou não dinheiro em caixa para poder avançar com alguns dos projetos elencados no orçamento para 2025 e, nomeadamente, para financiar a componente nacional de candidaturas a fundos comunitários?
R – A Câmara da Guarda não tem dinheiro para fazer face a esses compromissos financeiros todos.
P – A oposição refere que havia 9 milhões de euros no início do mandato, neste momento já não tem?
R – Não temos. Devo recordar – porque a oposição só fala daquilo que lhe convém – que para encerrar o Portugal 2020, no final de 2023, tivemos que investir 5 milhões de euros em obras. Ou pagávamos tudo o que estava a decorrer, ou perdíamos o dinheiro, e é claro que a tesouraria da Câmara baixou. Deste montante conseguimos ir buscar uma parte, não a totalidade, aos fundos comunitários no chamado “overbooking”. Em fevereiro, a oposição chumbou-nos o empréstimo para fazermos os investimentos nas freguesias por causa dos incêndios e das intempéries e neste momento estão a decorrer nas freguesias 10 milhões de euros de investimento, mas só temos um terço de financiamento e por isso quisemos contratar esse empréstimo…
P – Mas o que responde às pessoas que, na cidade, olham para estes números – a Câmara está a gastar 10 milhões de euros no espaço rural – e comentam que na cidade não se vê esse investimento?
R – Nós praticamos coesão territorial no nosso território. É muito simples: ou fazíamos esse investimento de 10 milhões, ou perderíamos 3,3 milhões de euros e a oportunidade de resolver situações que estão à espera de ser resolvidas há mais de 20 anos? Pedimos um empréstimo para não baixarmos a tesouraria do município e o que disse a oposição na altura foi que gastasse o dinheiro que tínhamos na conta. Está registado em ata e cá estamos a gastá-lo para fazer esses investimentos. Mas agora queremos lançar mais obras, aliás, algumas já estão em curso, outras estão adjudicadas e à espera do visto do Tribunal de Contas. Neste momento temos um investimento na cidade bem superior a 10 milhões de euros com obras adjudicadas, só precisamos que nos deixem trabalhar. Quisemos contratualizar um empréstimo para a habitação acessível…
P – Mas como estão as contas da Câmara?
R – Temos várias obras adjudicadas na cidade como a Avenida Cidade de Béjar – pedindo desculpa aos guardenses por aquele constrangimento, mas esperamos que até ao Natal esteja tudo resolvido; as ruas do Bairro do Torrão, que já terminámos; o acesso à plataforma logística, em curso; o novo órgão da Sé, que foi uma grande conquista para a Guarda; a melhoria das redes de água e saneamento; a substituição das paragens dos autocarros; o sistema de informação em tempo real; a repavimentação de vários arruamentos. Só aqui estamos a falar em 3,5 milhões de euros, além dos 20 milhões investidos nos primeiros dois anos do mandato. Mas vamos ao que está adjudicado e pode arrancar assim que tivermos todos os pareceres: a requalificação da Rua da Treija e dos Caminhos de Ferro, na Sequeira e no Bairro Nª Srª de Fátima; as ruas mais degradadas no Bairro Nª Srª dos Remédios, como a Sousa Martins, e Bairro da Luz, por exemplo, a Travessa José dos Santos; a requalificação dos polidesportivos da cidade, alguns dos quais por força do vandalismo; a requalificação das coberturas e caixilharia do Museu da Guarda e do Paço da Cultura; a requalificação da Rua Tiago Gonçalves, a estrada da Pocariça; a segunda fase da Avenida Francisco Sá Carneiro; a requalificação da antiga sede da Associação Comercial para instalar o Comando Sub-regional das Beiras e Serra da Estrela da ANEPC; a primeira fase da Avenida de São Miguel cuja adjudicação foi aprovada na última reunião de Câmara; a construção da residência de estudantes na Rua António Sérgio – serão 4,5 milhões de euros e 128 camas para o Politécnico, numa candidaturas financiada a 85 por cento. No total, são quase 20 milhões de euros de investimento na cidade.
P – A Câmara não tem dinheiro e por isso precisa dos tais empréstimos?
R – Grande parte das obras que acabei de referenciar podem ter financiamento pelo 2030, a 85 por cento. Os restantes 15 por cento têm que ser pagos pelo município, por isso é que precisamos de tesouraria para arrancar com estas obras porque temos sempre que andar com o dinheiro à frente.
P – Falou da Avenida de São Miguel, quando é que avançam as obras?
R – Essa obra foi adjudicada na última reunião de Câmara, depois precisamos do visto do Tribunal de Contas. Não vai ser só requalificado o piso, os passeios serão todos renovados, tal como as infraestruturas enterradas. Vamos intervir entre a rotunda do Anjo e a ponte da Estação, vai ter uma rotunda e ligação com a Rua da Corredoura para conferirmos maior mobilidade. Agora serão 1,6 milhões de euros e depois avançaremos para a segunda-fase, no próximo mandato, até à rotunda da Rasa.
P – Temos sete ou oito meses de mandato, como é que a Câmara vai fazer tudo isto? A Guarda vai ser um estaleiro em tempo de campanha?
R – Se tiver que ser, será, não deixarei de fazer obra simplesmente porque estamos em ciclos eleitorais. A Guarda está farta disso. Quem sabe ver o orçamento vê que muitos destes investimentos são plurianuais e que não vão ser concluídos em 2025, não vale a pena andarem com demagogia. Se não tivessem chumbado o primeiro empréstimo teríamos dinheiro em carteira para avançar com estas obras, mas o dinheiro não estica… Eram 6 milhões de euros que fariam alavancar mais 35 milhões de investimento, é isto que está em causa. A Guarda quer abdicar disto?
P – Vai, portanto, apresentar mais um pedido de empréstimo?
R – Estamos a analisar tudo isso. Este ano a Câmara aprovou investimentos de 44 milhões de euros de uma forma plurianual, são 34 operações financeiras, uns já começaram, vão continuar em 2025 e irão até 2026 ou mais. Quanto à tesouraria da Câmara, teremos neste momento cerca de 5 milhões de euros em conta, o que é um valor baixo para as necessidades de financiamento das obras.
P – A Câmara está a ser acusada de comprar lotes no Torrão a um valor alto, tendo em conta que é para construir fogos a custos controlados. Como explica isso?
R – Lamento que algumas pessoas se preocupem mais em fazer má língua, em falar mal de tudo e de todos, do que em construir. A seu tempo trataremos dessas pessoas, politicamente falando. Essas pessoas, como diz o povo, que enfiem a viola no saco e vão trabalhar. Foi feita uma consulta pública ao mercado há um ano, publicada em “Diário da República”, e o que resultou foi apresentado. Há dúvidas em relação à transparência deste processo ou querem fazer pairar no ar que há aproveitamentos, mas o que é isto? Em 2021, a Câmara aprovou uma Estratégia Local de Habitação de 6,7 milhões de euros e, no nosso mandato, em setembro de 2023, aprovámos a primeira atualização dessa estratégia para investimento em habitação social, programa 1º Direito, financiado pelo PRR, e foi homologado pela tutela, em julho de 2024, um acordo de colaboração de 24 milhões de euros. Temos adjudicados 9 milhões para o Bairro das Lameirinhas e estamos a aguardar a aprovação pelo IHRU, para ser financiado via PRR, de mais 89 fogos no centro histórico, no Bairro 25 de Abril, nalgumas antigas escolas abandonadas, para podermos fazer mais cerca de 15 milhões de euros de investimento. Há 51 fogos que estão aprovados, aguardamos a aprovação dos restantes 89…
P – Quando é que o Bairro da Fraternidade vai para obras?
R – A obra está adjudicada, o contrato será assinado nos próximos dias. É outra marca deste mandato. Há mais de 30 anos que se fala na reabilitação deste bairro, todos os presidentes de Câmara quiseram acabar com aquele problema, dar condições às pessoas, não o conseguiram e nós estamos a conseguir. Mas há mais 3 milhões de euros para 29 fogos candidatados pelas freguesias e IPSS. Já na habitação acessível temos aprovado financiamento PRR de 4,6 milhões de euros para a criação de 26 habitações na zona da Estação em dois prédios já comprados pelo IHRU. A Câmara tem mais três candidaturas para 84 fogos e 14 milhões de euros de investimento no Bairro do Torrão para que seja o IHRU a financiar via PRR, que apoia todo o investimento. Nos seis lotes que queremos adquirir, estamos a falar em 146 fogos de renda acessível e 24 milhões de euros de investimento. Está tudo dentro da legislação. Só fala disto da forma que fala quem não sabe, quem não estuda as matérias. Isto são investimentos para os próximos quatro anos com verbas do PRR até 2026 e depois do Banco Europeu de Investimento (BEI), que o Governo anterior já estava a negociar e o atual está a fechar para haver mais vida para além do PRR na habitação. Nesta área. a Guarda está na vanguarda na região Centro e se não soubermos aproveitar é mais uma oportunidade perdida. Já chega de oportunidades perdidas para a Guarda. Deixem-nos trabalhar! Em síntese, estamos a falar em 449 novos fogos habitacionais que podem surgir nos próximos quatro anos e 74,7 milhões de euros de investimento. É tanto como o orçamento anual da Câmara, mas temos que ter a ambição de trabalhar para isto e por isso é que digo deixem-nos trabalhar pela Guarda, deixem de andar nos corredores e nos cafés a falar mal de tudo e de todos.
P – No centro histórico foram adquiridas algumas casas pela autarquia, o que vai a ser feito, por exemplo, na antiga Autogaragem da Sé?
R – Iremos ali desenvolver um projeto de índole cultural. Mas também adquirimos um conjunto de edificações na Judiaria para criar um Centro de Interpretação das Judiarias da região Centro, cujo estudo prévio deverá ser lançado em breve. Será um ponto de atração internacional, porque a dimensão daquele edificado irá permitir fazer esse investimento.
P – Quando será lançada a “Variante da Ti’Jaquina”?
R – Essa será outra grande marca do nosso mandato. Há cerca de um ano aprovámos o plano de urbanização do Cabroeiro, que prevê não só a construção da variante, mas também a duplicação do parque industrial e a possível construção de 500 fogos habitacionais por privados nos bairros de Nª Srª dos Remédios, da Luz e do Pinheiro. Em fevereiro aprovámos o projeto de execução, em abril ou junho aprovámos a declaração de utilidade pública dos terrenos e neste momento estamos a tomar posse administrativa dos terrenos de quem quis negociar amigavelmente. Já assinei dezenas de cheques, o restante está em DUP e as vistorias para fazer as expropriações já estão marcadas. Esperamos lançar a empreitada da “Variante da Ti’Jaquina” dentro de poucas semanas, mas vamos precisar de um empréstimo para a pagar porque esta obra não tem acesso a fundos comunitários.
P – E como estão os projetos das variantes da Sequeira e dos Galegos?
R – Estive na génese da criação desse protocolo, em julho de 2018, com a Infraestruturas de Portugal (IP) para fazer a variante da Sequeira e, em 2019, houve o compromisso para a variante dos Galegos. O processo esteve parado estes anos todos e, em julho deste ano, conseguimos que fosse feito o “kick-off” do projeto. A IP contratualizou o projeto, que está a ser desenvolvido…
P – Os guardenses ouvem essa resposta há muitos anos…
R – Eu não minto aos guardenses. O projeto nunca foi feito, está agora a ser elaborado e esperamos num curto espaço de tempo, porque também começo a perder a paciência, que nos apresentem a solução final para fecharem o projeto de execução e lançarem a obra porque são compromissos do Estado, da IP. Esta é a verdade dos factos: o projeto ficará pronto durante o ano de 2025, esperamos ter obra em 2026 e lá para 2027 os trabalhos poderão estar concluídos. Isso mesmo foi falado na recente visita à Guarda do ministro das Infraestruturas.
P – Será recandidato à Câmara da Guarda dentro de um ano?
R – Não é o tempo para falar dessas coisas, estou a trabalhar para o futuro.
P – Foi sondado para ser candidato pelos partidos?
R – Não quero falar sobre as próximas autárquicas, é muito cedo…
P – Como está a sua relação com Álvaro Amaro?
R – Como sempre foi…
P – Houve dois projetos na Guarda em que a Câmara pediu a opinião dos munícipes: a construção do pavilhão multiusos – foi feito um estudo para a localização, mas nada aconteceu – e a antiga Casa da Legião. Em que ponto estamos?
R – Começando pela Casa da Legião, a discussão pública ditou a solução e temos que a respeitar. O que estamos a fazer neste momento é a análise do valor histórico-patrimonial do edifício, pedido pela comissão que foi designada. Esperamos que, dentro em breve, esse relatório possa ser feito para depois se tomar a decisão definitiva. Sobre o pavilhão multiusos, vamos avançar com um concurso de ideias para a cidade desportiva e esse pavilhão, porque é uma nova centralidade que deve existir na zona do Rio Diz. É ali que esses projetos têm que surgir.
P – Como está a situação com a “fábrica velha” da Têxteis Manuel Rodrigues Tavares?
R – Continua em tribunal. Estou plenamente convicto que a Câmara tem toda a razão naquele processo – se pagou quase dois milhões de euros por aquilo… É naquela envolvente toda que deve surgir aquela grande obra da cidade desportiva e do pavilhão multiusos, que devem ser vistos como um todo.
P – Gostaria que esse fosse o grande projeto, a sua marca, na Guarda, como autarca?
R – Não só, mas também. Não podemos estar só à espera de ver coisas bonitas quando temos o bolso vazio. É importante a atração de empresas e de pessoas para a Guarda, esse é o grande desiderato para as próximas décadas. Daí estar orgulhoso da fixação da UEPS, das empresas que conseguimos captar, do PDM, da Variante da Ti’Jaquina, cujas obras hão de arrancar a breve prazo, assim nos deixem trabalhar. E, no futuro, o pavilhão multiusos, a cidade desportiva, temos de nos orgulhar de tudo isso, estamos a falar da requalificação de vários hectares na cidade.
P – Um dos projetos-âncora para o desenvolvimento da Guarda e da região é o Porto Seco. Como vê o projeto, agora que a Linha da Beira Alta está quase pronta, e até que ponto não há uma certa desilusão, desde logo de Sérgio Costa, por saber que o plano da APDL só prevê a criação de cinco postos de trabalho?
R – Isso não é desilusão para mim, é a realidade, sempre o disse: o Porto Seco só vai criar meia dúzia de postos de trabalho diretos, mais os serviços aduaneiros. Só quem não sabe o que é um Porto Seco – e há aí muitos políticos assim – é que pode pensar que criará muitos postos de trabalho. Naturalmente que o Porto Seco e a Linha da Beira Alta já deviam estar feitos há muito, vamos a caminho do terceiro ano da via encerrada, isso entristece-nos. Sobre o Porto Seco dizer, uma vez mais, que se atrasou porque no Portugal 2030 a APDL apenas eras elegível pela CCDR Norte, no Centro não, e a Comissão Europeia, que mudou agora, teve que autorizar. Esperemos agora que o Porto Seco possa surgir mais rapidamente. A importância do projeto tem a ver com as sinergias que pode ajudar a criar para as empresas que estão cá e para as que vierem. Espero que a obra possa já iniciar-se no início do ano porque o ministro disse-nos que deu ordens para o processo ser acelerado, pois a adjudicação está pronta a ser feita.
P – Volto a perguntar: acredita que as obras e os investimentos projetados para 2025 podem mesmo ser executados?
R – Claro que sim, não no todo, mas em parte, tendo em conta o que está plasmado no orçamento municipal, nos investimentos plurianuais, assim nos deem as condições para trabalhar…
P – A Câmara disponibilizou 150 mil euros à ULS para o projeto de requalificação do Pavilhão Rainha D. Amélia, que está em ruínas, para acolher o Centro de Investigação Nacional do Envelhecimento. Como está isso?
R – A Câmara da Guarda tem alocado no seu orçamento 150 mil euros para pagar o projeto de execução. Fizemos esse protocolo com a anterior administração da ULS, mas não percebo porque foi literalmente colocado na gaveta nos últimos dois anos e meio. Esperemos que a nova administração – e já sensibilizámos a tutela governamental – avance com esse projeto para podermos reabilitar o Pavilhão Rainha D. Amélia para esse fim, que é muito importante, não só do ponto de vista da recuperação do património edificado e classificado, mas também para dar uma nova dinâmica ao nosso hospital, pois à volta do envelhecimento andarão todas as especialidades médicas. Poderá ser ponto de formação dos jovens médicos e assim captar alguns deles para se fixarem na cidade.
P – O que tem a dizer sobre o encerramento do Centro para a Economia e Inovação Social (CEIS), sediado na Guarda?
R – A garantia que nos foi dada pelo secretário de Estado do Trabalho, que esteve recentemente na cidade, é que os postos de trabalho estão assegurados e ficam na Guarda. Houve esta fusão, isso não me preocupa, o que falta decidir, e estaremos atentos relativamente à moção aprovada na última Assembleia Municipal, é onde ficará o centro de decisão da nova entidade.
P – Na cultura, o que é feito do “Quarteirão das Artes” e da intenção de lançar um museu de arte contemporânea?
R – A Guarda precisa de um museu de arte contemporânea e estamos a fazer uma reflexão sobre esse projeto. É nossa pretensão poder lançar esse estudo prévio no próximo ano. A Guarda também precisa do Centro Interpretativo da Judiaria, que será certamente um grande polo de atração turística para a cidade. Mas, como disse há pouco, vamos começar a reabilitação do “Quarterão das Artes” intervindo na cobertura do Paço da Cultura e do museu.
P – Na Praça Velha, todos conhecemos a triste realidade de três casas sem telhado junto aos antigos Paços do Concelho. O que é que vai acontecer?
R – São quatro, porque há outra nas traseiras, na Rua Sacadura Cabral. Já aprovámos em reunião de Câmara o Museu dos Sabores da Serra da Estrela para requalificar todo esse espaço e podermos instalar, no primeiro andar, serviços públicos, dando continuidade à Comunidade Intermunicipal, que se afirma cada vez mais como um poder regional. No rés-do-chão teremos dinâmica comercial e turística. O projeto foi aprovado e enviado para revisão para o podermos candidatar aos fundos comunitários e começar a obra. Assim que haja luz verde avançaremos, uma vez foi integrada na Intervenção Territorial Integrada (ITI) CIM Beiras e Serra da Estrela no início deste ano. São 16 milhões de euros que conseguimos conquistar para fazer uma parte destes investimentos até 2030.
P – Ou seja, no próximo ano poderemos ver de novo aquelas casas com telhado?
R – Pelo menos o início da obra, sim. É uma intervenção que está orçada em cerca de 2 milhões de euros e que terá um a dois anos de prazo de execução.
P – Para terminar, os nossos leitores, via redes sociais, querem saber por que motivo a “Cidade Natal” não fica até ao fim do ano e termina dia 25?
R – Têm toda a razão e faço a mesma pergunta. A “Cidade Natal” está naquele espaço desde que foi criada, há dez anos, mas depois é preciso a logística para a Passagem de Ano, a razão é só esta. Sou totalmente defensor que possa ficar até ao Dia de Reis, aproveitando o turismo espanhol, só que temos que pensar noutro espaço para a Passagem de Ano, que pode ser, por exemplo, a Praça da Liberdade quando a GNR sair de lá. E podemos associar perfeitamente a “Cidade Natal” e a Passagem de Ano. Mas aceito sugestões para que possamos celebrar a Passagem de Ano no centro da cidade, que é onde deve ser convivida.