A Guarda, entre uma hospitalidade histórica e a beleza adjacente à Serra da Estrela, ainda é marcada pelo ar puro que as nossas matas e florestas alimentam, por construções rochosas que formam paisagens magníficas, por solo fértil que pela ação da(o)s nossa(o)s camponesa(e)s
continua a alimentar a pecuária e agricultura local, por tradições têxteis que permitiram o desenvolvimento operário e tradições gastronómicas que além de saborosas, são parte de um legado.
Sempre fomos uma cidade rica em matéria-prima e em conhecimento de como a usar. Mas, será que temos aproveitado a nossa herança? Podemos dizer que somos uma cidade orgulhosa dos seus costumes quando grande parte deles dependem do esforço comunitário da população? Na maioria das vezes sem um apoio significativo?
Quem visita a nossa cidade tem perceção do património arquitetónico? Será que podemos afirmar que temos protegido o centro histórico? Edifícios centenários? A judiaria, essencial na nossa história? Se a Inquisição e perseguição religiosa nos fizeram perder alguns marcos, atualmente continuamos a apagá-los pelo tempo e pela inação política.
A criação cultural cresce, mas quem a faz sente-se apoiada(o)? Consegue viver na cidade que representa?
Já fomos essenciais na saúde portuguesa com a estrutura do atual Hospital Sousa Martins, mas agora é essencial defender a sua continuidade e a(o)s sua(e)s profissionais.
Continuamos sem enfrentar o despovoamento no interior que tanto tem afetado a cidade e os serviços disponíveis para a população.
A nossa floresta e montanha têm sido consumidas por projetos incapazes de
respeitar a região e pela apatia do poder local. Os incêndios florestais não são
novos, mas o seu número e intensidade aumentam na mesma medida em que
vamos esvaziando territórios anteriormente habitados e, naturalmente, cultivados.
O investimento nos recursos naturais que a nossa zona nos proporciona e de
produtos derivados deve ser uma prioridade e é obrigatório que seja prevista uma valorização a longo prazo do território, do meio e das pessoas.
Queria a garantia de emprego especializado e não precário com o mínimo de
impacto na fauna, na flora, na saúde dos locais e nas atividades que pressupõem a utilização de recursos naturais, que são parte dos nossos costumes e que podem ser grande parte da nossa economia. Queria ver investimento com a perceção de que há consequências duradouras, e nalguns casos definitivas, na forma como escolhemos fazê-lo.
Teremos de decidir o que desejamos e quem pretendemos priorizar, portanto no 825º aniversário da Guarda talvez o melhor seja parar e refletir: o que queremos da nossa cidade? Quem queremos que a represente?
* Deputada do Bloco de Esquerda na Assembleia Municipal da Guarda