Temos de ter Interior… no Orçamento

Escrito por Ana Mendes Godinho

“Quando há um problema recrutam uma agência de comunicação para que as paredes fiquem ainda mais insonorizadas e isoladas da realidade. Ou para que construam uma realidade alternativa que nós sabemos não ser a real.”

O Orçamento é sempre o tira-teimas das prioridades assumidas por um governo.
E este que agora foi apresentado ao país, infelizmente, já tirou todas as teimas: voltou o tempo da mão invisível que acredita que o mercado por si resolve tudo. E nós bem sabemos que esse modelo não resulta. Queremos mesmo voltar ao tempo do salve-se quem puder?
O primeiro sintoma preocupante vem de um detalhe que não é de somenos: a palavra Interior volta, como em tempo idos, apenas a associar-se a estudos e a palavras ocas na proposta de Orçamento para 2025.
Mas muito pior do que isso é que não há mesmo nenhuma preocupação com o Interior nem com as medidas de discriminação positiva que são necessárias!
Indo mais a fundo, percebemos que não é só uma questão de semântica. É mesmo uma ausência estrutural – e deliberada – de políticas e discriminação positiva para o Interior.
O Plano de Revitalização da Serra da Estrela foi construído de uma forma séria e profunda, em resultado de um abrangente e muito participado levantamento de necessidades. Previa um investimento global de 155 milhões de euros. Mas o valor previsto na proposta de OE é 100 vezes menos: 1 milhão e meio de euros.
Seria para rir, assumindo tratar-se de um lapso, mas infelizmente já foi confirmado pelo Governo: é mesmo intencional.
Todos os sinais que temos tido geram-nos alertas permanentes quanto à ignorância e desprezo a que o Interior está votado – e vetado – por esta nova onda de “livre mercado”, onde o capital decide livremente onde investir.
Mas, meus amigos, o destino dos nossos impostos não pode estar à mercê de decisões de mercado.
Governar também é fazer escolhas!
Por isso continuarei a minha luta, com resistência, persistência e insistência para que o Orçamento de Estado assuma, pelo menos:
• a concretização da abolição das portagens (contra ventos e marés, agora que há estudos cientificamente sólidos que confirmam o impacto das portagens na quebra de 10% nas receitas das empresas do Interior, com a consequente destruição de emprego);
• a criação de uma Agência para captar e acompanhar Investimento no Interior, decisivo para fixar e atrair jovens;
• a concretização dos projetos do Plano de Revitalização da Serra da Estrela;
• mecanismos simples de mobilidade de trabalhadores da Administração Pública para o Interior, incluindo para trabalho remoto;
• a conclusão dos investimentos estruturais na área da saúde no distrito da Guarda;
• a plena concretização do Porto Seco (contra ventos e marés de outros interesses do “livre mercado”, que tentam anular a concorrência de quem foi pioneiro e visionário);
• a concretização dos investimentos nas acessibilidades da Serra da Estrela, concretamente o IC 6, o IC 7 e o IC 31, como estava projetado;
• a continuidade do investimento na ferrovia, desenvolvendo os eixos estratégicos de ligação do Atlântico à Europa que consolidam a centralidade do distrito da Guarda como plataforma ibérica;
• a conclusão do Hotel Turismo, como estava programado e contratualizado.
A nossa luta tem de ser intensa porque as paredes de Lisboa estão mais insonorizadas que nunca.
Quando há um problema recrutam uma agência de comunicação para que as paredes fiquem ainda mais insonorizadas e isoladas da realidade. Ou para que construam uma realidade alternativa que nós sabemos não ser a real.
A nossa Voz tem de ser mais forte e mais unida. Cá estamos.
Resistentes, Persistentes e Insistentes, alimentados pela Força de saber que faz sentido e que resulta. Porque já o demonstrámos, nomeadamente com a abolição das portagens. Façamos mais.
Porque nos aquece a Esperança e a experiência de que é possível.
Aqui fica o repto aos meus colegas deputados eleitos pelo distrito da Guarda para que unamos as nossas vozes, sem preconceitos nem medos, na luta por causas comuns. Temos, em conjunto, esse dever e essa responsabilidade.
Porque todos nós perderemos se não o fizermos.

* Deputada do PS na Assembleia da República eleita pelo círculo da Guarda

Sobre o autor

Ana Mendes Godinho

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