Novos desafios

“O Dia do Exército também foi um exercício de reflexão sobre o desenvolvimento local e um contributo para pensar novos desafios”

1. As comemorações do Dia do Exército na Guarda foram uma jornada de excelência que não podemos deixar de aplaudir. A Guarda foi o centro da vida militar nacional por estes dias e, muito para além da elevação da autoestima dos guardenses, permitiu conhecer a dimensão, trabalho e relevância do Exército. E permitiu às pessoas contactarem e perceberem a função e desempenho dos militares em tempo de paz. Ou a preparação para a guerra…

Mas foram também uns dias com momentos de análise e discussão da interioridade, do despovoamento do interior e de discussão sobre a coesão territorial. E procurar novas ideias, novos caminhos e novas oportunidades para o futuro regional. Como refere Joaquim Brigas, presidente do Instituto Politécnico da Guarda, em artigo de opinião neste jornal, «foi uma ocasião nacional para refletir a forma como em Portugal o investimento e a inovação em Defesa podem ser postos ao serviço da competitividade da economia nacional» e «isto traz-nos à Guarda, ao Interior de Portugal e ao papel que o Ensino Superior pode desempenhar na atração, implantação e desenvolvimento de indústrias avançadas com relevância para as tecnologias de Defesa nestes territórios».

O Dia do Exército também foi um exercício de reflexão sobre o desenvolvimento local e um contributo para pensar novos desafios e, enquanto se recordava a importância histórica dos territórios da raia na defesa nacional, perspetivar a possibilidade de a nova economia militar poder passar pela Guarda. Ou seja, pode ter contribuído para abrir portas a um futuro que nos estava vedado.

2. A guerra continua mortífera e sem fim à vista na Ucrânia, mas foi na Alemanha que caiu a maior bomba dos últimos dias. O fabricante alemão de automóveis Volkswagen (VW) planeia encerrar, pelo menos, três das dez fábricas e reduzir dezenas de milhares de postos de trabalho naquele país. As outras sete fábricas terão de ser redimensionadas, de acordo com os planos de gestão que foram comunicados à comissão de trabalhadores – a Volkswagen tem só na Alemanha 120.000 trabalhadores, metade dos quais na sede em Wolfsburg.

O plano da VW prevê igualmente uma redução de 10% de todos os salários e o congelamento dos salários em 2025 e 2026, além pretender transferir para o estrangeiro muitas das atividades e departamentos do grupo atualmente sediados na Alemanha. E deverá implicar o despedimento de dezenas de milhares de trabalhadores. De resto, enquanto os sindicatos defendiam um aumento salarial de 7 por cento, a administração considera a possibilidade de efetuar cortes salariais de até 10%.

Os analistas apontam a concorrência chinesa, nomeadamente a importação de carros elétricos mais baratos da China, como a razão para as dificuldades da indústria automóvel europeia – se os europeus preferirem comprar carros chineses obviamente que as marcas automóveis europeias não irão resistir (e não podemos esquecer que a AutoEuropa pertence à VW). Mas a Alemanha, em particular, e a Europa, em geral, começam a sentir as consequências do seu apoio e financiamento da resistência ucraniana à invasão russa. A guerra é muito cara e a maioria dos países europeus sofrem com a inflação, dependência energética e registam um crescimento lento em consequência da pandemia e em especial da guerra na Ucrânia.

Sobre o autor

Luís Baptista-Martins

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