Al mirante (aquele que vê, em árabe)

“Sobre uma putativa chegada de um almirante a presidente da República, cujo grande feito foi obrigar todos os portugueses a levar umas injecções e grande qualidade é ostentar um “e” entre os apelidos, como Felipe VI, tenho pouco a dizer, a não ser que não me parece ser muito diferente do actual presidente (…)”

Anda meio mundo (alerta sinédoque) salivando, outro meio receando a hipotética vitória de um comandante da armada nas próximas eleições presidenciais. Uns porque querem que a presidência tenha um rumo, outros porque temem que rumo seja esse. É nestas alturas que aprecio questionar os republicanos convictos sobre as tremendas vantagens das repúblicas sobre as monarquias, sempre à espera de elucidações que me possam convencer. A última resposta que obtive foi que nas repúblicas é o povo que escolhe, e não, como nas casas reais, Deus ou a genética, conforme a crença sobre o acto de criação. Olhando apenas para a Península Ibérica, e comparando Felipe de Borbón y Grecia com Marcelo Rebelo de Sousa, quem é que parece ter sido mais assisado na hora da decisão, o nosso povo na terra ou nosso senhor nas alturas?
Há, obviamente, o argumento muito convincente do atraso civilizacional que as monarquias representam, com exemplos evidentes por essa Europa toda. Espanha, Bélgica, Inglaterra ou País de Gales, Dinamarca, Holanda, Suécia, Noruega, Luxemburgo ou mesmo o Liechtenstein e o Mónaco são reinos onde me parece insuportável aguentar a existência, de tão aflitivamente retrógrados que são.
Mas se me perguntassem – e ainda bem que ninguém pergunta – se estaria disposto a sair à rua em armas para fazer uma contra-revolução ao 5 de Outubro, a minha resposta é quadruplamente negativa, porque não sei pegar em armas, nunca faço grande questão de sair à rua, não tenho gosto por ajuntamentos, muito menos revolucionários, e o feriado a 5 de Outubro dá jeito para celebrar o aniversário da minha tia e do tratado de Zamora, já que o Estado português, de forma escandalosa, não assinala nem um nem outro.
Sobre uma putativa chegada de um almirante a presidente da República, cujo grande feito foi obrigar todos os portugueses a levar umas injecções e grande qualidade é ostentar um “e” entre os apelidos, como Felipe VI, tenho pouco a dizer, a não ser que não me parece ser muito diferente do actual presidente, que também passou uma década a enfiar injecções dominicais no povo português antes de ser candidato. Além do mais, não se pode dizer que esteja vacinado por militares, porque fiquei na reserva territorial do serviço militar sem sequer ser chamado para a inspecção e levei as vacinas da Covid no estrangeiro.

* O autor escreve de acordo com a antiga ortografia

Sobre o autor

Nuno Amaral Jerónimo

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