Um pouco do muito que a Índia Antiga nos deu

Escrito por Pedro Fonseca

“Como sem língua não há cultura, importa evidenciar o veículo através do qual toda esta sabedoria foi preservada e transmitida: a majestosa língua sânscrita. “

Algures entre 1.500 a. C. e 500 a. C., na região hoje compreendida pelo Paquistão e pelo norte da Índia, floresceu uma civilização única que legou contributos de valor incalculável à Humanidade.
Foi o berço de várias religiões e correntes espirituais que se haveriam de expandir por todo o mundo, como o hinduísmo, o budismo e o jainismo. Por sinal, três das confissões religiosas que mais se têm destacado na promoção de uma mensagem de paz, tolerância, inclusão e não-violência contra todos os seres.
Produziu os Vedas, os textos sagrados do hinduísmo, que estão entre os escritos mais antigos que se conhecem e que oferecem uma mitologia que tem fascinado crentes e não crentes ao longo de milénios. Do ventre do hinduísmo, nasceram também as correntes espirituais do yoga e do tantra.
De composição mais tardia, os Upanishads espelham bem a riqueza e a eloquência das suas doutrinas filosóficas, enquanto os seus contos épicos, o Ramayana e o Mahabharata (que integra o célebre Bhagavad Gita), oferecem valiosos ensinamentos de moralidade, ética e justiça. Todos eles têm recebido a atenção e merecido a reverência de gerações e gerações de pessoas independentemente do seu credo religioso.
Muitas das fábulas que nos são familiares, incluindo algumas das que foram publicadas pelo escritor francês Jean de La Fontaine, também tiveram aqui a sua origem ou fonte de inspiração. No campo da medicina escreveram-se tratados pioneiros sobre diferentes tipos de cirurgia e surgiram as primeiras abordagens holísticas para a saúde e o bem-estar.
Como sem língua não há cultura, importa evidenciar o veículo através do qual toda esta sabedoria foi preservada e transmitida: a majestosa língua sânscrita. O sânscrito é uma das línguas indo-europeias mais antigas que se conhecem e está na origem de várias das línguas que atualmente são faladas na Índia. Dotado de uma estrutura altamente sofisticada e ostentando uma precisão e riqueza vocabular ímpares, a sua gramática, codificada por Panini na obra “Ashtadhyayi”, continua a ser amplamente estudada na atualidade.
Tão notáveis foram os contributos desta civilização que um lugar na sua linhagem tem sido reivindicado por diversos povos asiáticos e europeus. Com efeito, desde o início do século XVIII até à atualidade, as questões em torno da sua origem e dos povos que dela descenderam têm alimentado um longo e fervoroso debate. Acontece que estas discussões nem sempre se têm baseado exclusivamente em dados apurados por investigações científicas, sendo, não raras vezes, condicionadas e inflamadas por motivações do foro político-ideológico.
À margem desse debate e do seu eventual desfecho, é imperioso agradecer à sequência ininterrupta de gerações que, desde uma época tão remota até aos nossos dias, assegurou a preservação desta preciosa herança. Esperemos que essa longa corrente humana, que já atravessou cinco milénios, se possa estender por muitos mais.

* pedrorgfonseca@gmail.com

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Pedro Fonseca

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