O interior

Escrito por Diogo Cabrita

“Há quem pense que os animais reconhecem os interiores bons. Há quem acredite que os maus despertam desconfiança dos cães. Nada se provou sobre isto e há psicopatas passeando seus bichos de estimação.”

Há um interior dos territórios e um interior das pessoas. Dentro somos diferentes do que ostentamos. Ver o interior seria extraordinário e ficávamos a conhecer o amor, o ódio, a inveja, a tendência criminal. O interior seria mais difícil que o litoral e por essa razão há muito mais gente perto do mar. Também os sentimentos mais superficiais se reconhecem depressa e outros mais densos estão escondidos por frenações e contenção de vários tipos. Mostrar o que se é não está na vozearia, não desponta das lágrimas fáceis, não corresponde a gritos e momentos de rubor facial. Dizia-se que as pessoas se conheciam no jogo. Tinha relação com saber perder, respeitar o adversário, manter postura. Também se cava o interior no divórcio, na rejeição, na pobreza. O âmago da gente é uma obscuridade sem imagens, uma realidade sem meios complementares de diagnóstico. Há quem pense que os animais reconhecem os interiores bons. Há quem acredite que os maus despertam desconfiança dos cães. Nada se provou sobre isto e há psicopatas passeando seus bichos de estimação. Na mesa também se reconhecem as pessoas. Os que atacam o melhor pedaço, os que se servem à frente de todos os outros, os que empurram todos para servir suas crianças na frente, os que não sabem usar os talheres, ou os copos. A mesa não expõe a profundidade? Penso que sim nalguns gestos que são mais respeitosos que educação.

Também se reconhece o berço no transporte público, na sala de aula e em tantas outras coisas. Os interiores vislumbram-se nos gestos e no comportamento público. Não se leva a namorada na moto depois de beber uns copos. Não se fica à mesa horas se vamos com as crianças. O interior dos países também é uma montra importante deles.

Sobre o autor

Diogo Cabrita

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