A Locomotiva: olhar para o passado ou para o futuro?

“A qualidade, segurança ou largura da maioria das SCUT é baixa e devia ser razão suficiente para não terem de se pagar”

1. Na semana passada, o Presidente da República promulgou o decreto que elimina as taxas de portagem nos lanços e sublanços das autoestradas SCUT (sem custos para o utilizador) do interior e nas vias onde não existam alternativas que permitam um uso com qualidade e segurança.

Com esta promulgação, o processo já não anda para trás… 13 anos depois, as portagens nas antigas SCUT vão mesmo deixar de existir a partir de 1 de janeiro de 2025 – pelo menos até que outra maioria aprove o seu contrário!

2. O presidente da Brisa, defensor da cobrança em todas as autoestradas, até porque as longas distâncias que se percorrem, nomeadamente na A25 e A23, são uma boa receita paras as empresas concessionárias e para a Brisa, que faz a emissão e gestão da Via Verde (a plataforma utilizada em todas as autoestradas), não só criticou a gratuitidade, como afirmou que sem portagens haverá mais acidentes e mais mortes nas estradas. Não é verdade. Ao contrário do que Pires de Lima afirmou, as autoestradas são mais seguras do que as estradas nacionais e têm menos sinistralidade.

Depois, também o ministro das Infraestruturas veio atacar a decisão da abolição das portagens. O Governo devia governar para todos, mas parece que Pinto Luz escolheu governar para os de Lisboa e não para o resto do país – as declarações de Pinto Luz envergonham o Governo, o PSD e a política, porque fazer política tem de ser a arte de governar para todos e em benefício de todos, muito para além das opções pessoais ou partidárias – e se é compreensível a argumentação e o voto por disciplina no debate parlamentar, nesta altura continuar a bater na mesma tecla, é ficar a olhar para trás e mostrar ressabiamento. A qualidade, segurança ou largura das vias da maioria das SCUT é baixa e devia ser razão suficiente para não terem de se pagar.

3. Os covilhanenses vão passar a ter à sua disposição 200 trotinetas elétricas, disponibilizadas através da Transdev, num contrato com a Câmara da Covilhã. Depois dos elevadores e outros sistemas mecânicos de mobilidade, nomeadamente para contrariar os declives da cidade, a autarquia avança agora com uma proposta de aluguer de trotinetes que irá contribuir para facilitar a mobilidade dos covilhanenses.

Na Guarda, a mobilidade continua uma miragem. Não há sistemas mecânicos, nem ascensores, nem elevadores, nem funiculares para anunciar. Não há autocarros modernos, nem elétricos, nem trólei, nem monorail, mas vamos ter finalmente uma locomotiva do século passado para admirarmos na rotunda do Polis, em direção à estação ferroviária. Cinco anos e 91 mil euros depois (mais estrutura de suporte e instalação), a locomotiva CP 294, datada de 1913, e respetivo tender, já foram instalados na rotunda junto ao Parque Urbano do Rio Diz, na Guarda. Uma locomotiva que nunca percorreu a Linha da Beira Alta (e por isso não se chama BA…) ou a Linha da Beira Baixa e vai ficar cedida, na Guarda, enquanto houver manutenção. Não representa o passado referencial e mobilizador da Linha da Beira Alta e da Estação da Guarda, nem aponta para o futuro, para a modernidade que a Guarda reclama, mas vai teimando em adiar…

Sobre o autor

Luís Baptista-Martins

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