Agora que nos estamos a aproximar vertiginosamente das férias de Verão e da já famosa “silly season”, há uma questão que cada um dos guardenses em particular e a própria sociedade, em geral, devem fazer a si próprios: estará a Guarda melhor em Junho de 2024 do que em Junho de 2021?
Há três anos estávamos em pleno período pré-eleitoral, debaixo do fogo cruzado de promessas que caracterizam essa etapa política. No entanto, promessas à parte e não obstante ainda se estar a viver um período conturbado por causa da Covid-19, à data, a Câmara gerida pelo PSD já tinha avançado com uma candidatura à Capital Europeia da Cultura, estávamos em plena quinta edição do SIAC, os Passadiços do Mondego estavam quase concluídos, a Sodecia pretendia expandir as suas instalações no parque industrial e aumentar a sua força laboral em algumas centenas de pessoas, o processo da “Alameda dos F’s” (vulgo Ti Jaquina) estava praticamente concluído e aguardava o voto favorável na Assembleia Municipal do próximo Setembro.
Para além disto, tinham sido iniciados contactos com o arquitecto Souto Moura, no sentido de transformar a degradada “Casa da Legião” numa espécie de “Guggenheim” que albergasse a coleção de arte Piné e o TMG continuava a ser uma referência cultural da região Centro.
Paralelamente, falava-se na provável transformação do ex-matadouro numa unidade de saúde privada e tinham sido adquiridos dois imóveis em avançado estado de deterioração em plena “Praça Velha” com o objectivo de os recuperar e ajudar a promover uma dinâmica cosmopolita naquela área nobre da cidade. Estas são apenas algumas referências do estado da arte em que vivíamos há três anos.
E hoje? Como estamos?
Após a vitória do movimento PG nas eleições de Setembro de 2021, o actual executivo “cortou a fita” dos passadiços mas as mais-valias económicas decorrentes de uma oferta turística integrada são poucas e de reduzido valor. A candidatura a Capital Europeia da Cultura foi completamente deixada ao abandono e o resultado foi o que todos sabemos. A Sodecia procurou outras paragens para aumentar a sua oferta produtiva. O processo da Alameda dos F’s está praticamente na mesma, ou seja, perderam-se três preciosos anos para nada. A Casa da Legião, em vez de ser um museu emblemático, continua a sua decadente ruína e provavelmente será um parque de estacionamento. Com isto, a coleção Piné continua longe da Guarda e à responsabilidade da Associação Nacional de Farmácias. No TMG prescindiram-se de mais de 800.000€ de financiamento da Direcção-Geral das Artes e actualmente pouco mais é do que um salão de eventos onde ocasionalmente ocorre uma actividade cultural de relevo.
Na Praça Velha, as casas adquiridas continuam o seu galopante processo de degradação, sem se perspectivar um fim à vista, às quais se adicionam mais de uma dezena de imóveis, entretanto adquiridos e alegadamente transaccionados acima do preço de mercado e para os quais não existe um destino que justifique a sua reabilitação.
Por último, dão-se alvíssaras a quem proporcionar informações sobre o paradeiro do SIAC – Simpósio de Arte Contemporânea da Guarda.
Estamos melhor? Do ponto de vista sanitário sim, porque a batalha contra a Covid-19 foi ganha, mas do ponto de vista autárquico estamos muito pior porque a epidemia desastrosa que contaminou a edilidade continua a aumentar.
*O autor escreve ao abrigo dos antigos critérios ortográficos