Esta é uma dúvida permanecente porque, durante milénios, ambas as especialidades estiveram juntas. Só no século XX é que se separaram, com vantagens mútuas. Vou estabelecer quatro distinções, terminando com exemplos de patologias concretas, no âmbito de cada uma destas especialidades:
1. Qualquer ciência é definida pela matéria que estuda e pela forma como a estuda. A Geologia e a Geografia, por exemplo, estudam a mesma matéria, a Terra, mas de formas diferentes. Assim, a Neurologia e a Psiquiatria também estudam a mesma matéria, o Cérebro, mas com pontos de vista diferentes.
2. Para além do cérebro, a Neurologia também se dedica às doenças da medula espinal, dos nervos periféricos e dos músculos.
3. A Neurologia estuda as anomalias da estrutura do sistema nervoso (doenças estruturais ou orgânicas) e a Psiquiatria estuda doenças em que frequentemente não existem anomalias anatomicamente demonstráveis (doenças funcionais ou psicológicas).
4. A Neurologia remete mais para o corpo e a Psiquiatria mais para a mente. Embora esta distinção seja artificial, refiro-a para realçar que a vida mental é inseparável de vida cerebral, logo, Neurologia e Psiquiatria são especialidades complementares e não antagónicas.
Que doenças são abordadas pela Neurologia?
Cefaleias. Acidentes vasculares cerebrais. Defeitos cognitivos, nomeadamente da memória e demências, como a doença de Alzheimer. Doenças do movimento, com ou sem tremores, como a doença de Parkinson. Perturbações do equilíbrio. Perdas de conhecimento e Epilepsias. Doenças inflamatórias, como a Esclerose Múltipla. Falta de força ou de sensibilidade nos membros (neuropatias periféricas e miopatias).
Que doenças são abordadas pela Psiquiatria?
Perturbações de adaptação, ao longo de todas as fases da vida. Perturbações da ansiedade. Perturbações obsessivas e compulsivas. Depressões de causas e de gravidade muito variadas. Perturbações bipolares. Perturbações da personalidade, com ou sem quebra da ligação com a realidade, com ou sem alucinações (psicoses, como a esquizofrenia e outras doenças do humor, da perceção e da cognição). Comportamentos abusivos, de drogas ou de outras substâncias. Perturbações do sono, do comportamento alimentar, sexual e mesmo do comportamento social.
Por fim, caro leitor, se continuar com dúvidas, pergunte ao seu médico de família. Não se intimide em marcar uma consulta, mesmo que não esteja realmente doente. As consultas são uma oportunidade de falar de si, de esclarecer questões que eventualmente o preocupam, por vezes, durante anos, e servem também para a prevenção da ocorrência de possíveis doenças.
* Neurologista no Hospital CUF Viseu
N.R.: Esta secção é uma colaboração mensal do Hospital CUF Viseu, na qual os seus profissionais partilham conselhos e dão dicas sobre saúde.