Nos últimos dias a notícia de que esta semana há dez (10) maternidades fechadas ou com limitações por todo o país é impressionante. Depois do que ocorreu no ano passado, a notícia é aceite com uma certa normalidade, quando na verdade é uma fatalidade. Uma fatalidade lusitana que não podemos aceitar de bom grado. E contra a qual nos temos de insurgir.
Até quinta-feira, uma dezena de maternidades vão estar fechadas temporariamente ao exterior ou terão constrangimentos, a crer no mapa das escalas de urgências de ginecologia/obstetrícia que foi divulgado pelo Ministério da Saúde na passada sexta-feira. Segundo Diogo Ayres de Campos, presidente da Federação das Sociedades Portuguesas de Obstetrícia e Ginecologia «a situação ainda está pior do que há dois anos» para concluir: «Isto não é aceitável num país europeu!». E o problema não tem solução à vista – esta semana são dez maternidades, na semana seguinte se verá quantas e quais estarão encerradas…
De acordo com o mapa divulgado com os serviços de urgências dos hospitais que vão estar encerrados ou ter constrangimentos até esta quinta-feira, dia 20, além da ginecologia/obstetrícia, a especialidade mais carenciada, há também urgências de pediatria encerradas ao exterior por falta de médicos para completarem as escalas – sábado havia 90 serviços de urgência abertos em Portugal continental, enquanto sete estavam fechados e nove estavam a funcionar com limitações e constrangimentos.
Para quem é do interior esta excecionalidade é há muito uma normalidade. Ou quase. Mas incrivelmente, desta vez, o problema não é connosco. Ou melhor, para já, as maternidades da Beira Interior estão a funcionar normalmente e os serviços de urgências têm sido assegurados… Talvez no litoral, onde agora todos os dias se convive com a falta de médicos e limitações em vários serviços, não houve capacidade de prever que também nas grandes cidades um dia haveria urgências sem capacidade de resposta, maternidades fechadas ou serviços deficitários – ninguém há dois ou três anos poderia acreditar que a urgência pediátrica de Viseu, um hospital “central”, poderia encerrar ou passar semanas reservada a casos «urgentes e emergentes». E que «a resposta da urgência pediátrica» terá de ser «em rede com o apoio dos outros serviços de urgência regionais (Coimbra, Aveiro e Guarda)», lê-se num comunicado da administração da ULSVDL.
Ou seja, as imensas dificuldades que há muitos anos existem nos pequenos hospitais e no interior estão hoje generalizadas por todo o país. No ano passado vimos filas de ambulâncias à porta de urgências de hospitais centrais. Hoje temos dez maternidades fechadas ou com limitações… E temos cada vez mais médicos a recusarem fazer mais de 150 horas extra por ano (500 médicos indisponíveis para fazerem horas extraordinárias se não houver acordo com a tutela) e mais médicos a reformarem-se. E quantos mais seguros de saúde se venderem, mais problemas terá o SNS pois o privado terá mais clientes e mais dinheiro para ir buscar os médicos ao público.
Perante esta fatalidade de haver falta de médicos em Portugal, contra a vontade corporativista dos médicos (oposição da Ordem dos Médicos), vai abrir já no próximo ano letivo o curso de Medicina em Aveiro. E deveria abrir também em Vila Real (UTAD) ou aumentar as vagas em outras faculdades onde seja possível formar mais clínicos sem perder a qualidade formativa.
Obviamente que o problema não terá solução imediata, vai demorar anos a formar médicos, anos em que a câmaras da região vão oferecer casa e dinheiro para atrair clínicos que não existem. A Saúde é e será um problema no país e não apenas no interior …