Ele próprio é assim que se descreve do seu último texto no semanário “Sol”: «Sei que levarão a mal que este vilão nortenho denuncie que esta opção se insere numa estratégia unipolar, que determina que apostemos todas as fichas em Lisboa», escreve Rui Moreira, presidente da Câmara do Porto, no artigo intitulado “Desmancha-prazeres me confesso” dedicado ao anúncio pelo Governo da escolha de Alcochete para a localização do futuro aeroporto Luís de Camões.
Vale a pena dar alguma atenção a este texto, não porque diga o que quer que seja de interessante (já lá iremos), mas precisamente pelo contrário: pela sua vacuidade e ausência de alternativas, representa o pior provincianismo que existe. Critica por criticar e não oferece o que quer que seja em troca, ignorando dados objetivos que contrariam a sua tese. É uma bela lição, pela negativa, para o debate político na Guarda e na Beira Interior: bem-haja por isso!
A tese principal de Rui Moreira é que o novo aeroporto de Lisboa, juntamento com o TGV Lisboa-Porto-Vigo e Lisboa-Madrid e a nova ponte rodoferroviária de Lisboa, irão agravar a macrocefalia do país. O problema é que a realidade o desmente, a começar pelo crescimento atual do aeroporto do Porto.
Segundo maior aeroporto do país, o Aeroporto Francisco Sá Carneiro tem estado a crescer nos últimos anos fruto de investimentos na taxiway (pista de circulação paralela à de aterragem) que acrescentaram 1.300 metros ao caminho que existia. Foram também feitas obras para aumentar a capacidade no terminal de passageiros, com novas máquinas de raio-X e mais balcões de “check-in”. Em 2023 o Porto recebeu 15,2 milhões de passageiros e a expetativa é que ultrapasse os 15,6 milhões em 2024.
De acordo com o “Expresso”, de 26 de maio, as obras de reabilitação da pista do Sá Carneiro estão previstas e vão ser enquadradas num conjunto de investimentos que preveem reforçar a capacidade desta infraestrutura para receber até 40 milhões de passageiros por ano. Recorde-se que a capacidade do atual do aeroporto Humberto Delgado é de 33 milhões.
Acresce que o ministro das Infraestruturas, Miguel Pinto Luz, já afirmou que a ligação Porto-Vigo em alta velocidade é prioritária em relação à obra de ligação de Lisboa à rede espanhola em Badajoz.
Ou seja, Rui Moreira ataca não se percebe bem o quê. Ele próprio também não deve perceber, caso contrário teria dito: «Melhor do que o que foi anunciado, seria fazer isto». Só que o “isto” de Rui Moreira não existe.
Mais valia estar calado.
* Presidente do Conselho Distrital da SEDES Guarda