O verdadeiro inimigo do clima não são os grandes poluidores, nem os negacionistas, mas sim o estado de pobreza em que a maioria das nações se encontra. É dessa situação que os respetivos governos querem sair a todo o custo. Se é fácil (e correto) condenar os atropelos ambientais cometidos por estes países, mais difícil se torna negar que o passado e o presente não fornecem argumentos a seu favor.
Foi a partir da Revolução Industrial que os combustíveis fósseis começaram a ser queimados em grande escala para alimentar as novas máquinas industriais e os novos meios de transporte, libertando dióxido de carbono (CO2) para a atmosfera, onde permanece durante centenas de anos, contribuindo para o aquecimento do planeta.
Até às décadas iniciais do século XX, a industrialização foi o privilégio de um grupo muito restrito de países, onde se incluíam a Grã-Bretanha, a França, a Alemanha, os EUA e o Japão. Durante décadas a fio, estes países puderam desenvolver as suas economias e acumular riqueza, livres de qualquer tipo de limitações ou imposições. O processo de industrialização iniciou-se muito mais tarde na Rússia (década de 1920), na China e na Índia (ambos a partir da década de 1950), três países que hoje figuram entre os maiores emissores de CO2.
Por mais tratados e acordos internacionais que sejam assinados, por mais discursos inflamados e manifestações estudantis que tenham lugar, nada travará os países em vias de desenvolvimento de procurarem sair da pobreza e, assim, poderem melhorar as condições de vida das suas populações.
Nos próximos anos, mais países vão querer trilhar este caminho de desenvolvimento económico. Para evitar o consequente agravamento da catástrofe climática que estamos a viver, é fundamental que os países mais desenvolvidos percebam que a única solução passa por combater a pobreza e promover o desenvolvimento sustentável ao nível global.
O primeiro passo será o de facilitar o acesso à tecnologia que permita a esses países desenvolver as suas economias com um nível reduzido de emissões de CO2 e sem contribuir significativamente para o esgotamento dos recursos naturais do planeta. Seria igualmente importante liderar pelo exemplo, o que, infelizmente, está longe de acontecer. A este respeito, bastará referir que, em 2022, os EUA continuavam a ser o país com o maior nível de emissões per capita.
Mas o verdadeiro cúmulo desta tragédia ambiental vamos encontrá-lo na constatação das populações que são mais afetadas pelos efeitos das alterações climáticas. Com efeito, são os países que pouco ou nada contribuem com emissões de CO2 aqueles que mais sofrem as suas consequências, como é o caso, entre muitos outros, do Sudão do Sul, da Guatemala e do Bangladesh.
Todas as pessoas que abandonam as suas casas e rumam a outras paragens porque, devido aos efeitos das alterações climáticas, já não lhes é possível permanecer nas terras dos seus pais, são as vítimas inocentes e silenciosas de um sistema desenfreado e desumano, gerador e perpetuador de injustiças e de desigualdades.
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