Marques Mendes terá ouvido bem os discursos de Jorge Sampaio, quando este era líder da oposição e o PSD, com Cavaco Silva, governava com maioria absoluta? Parece que sim. É que, no essencial, diz o mesmo.
Diz que a maioria absoluta é confundida com poder absoluto. A acusação é grave, nalguns casos roça o credível, mas na essência é ridícula. Tanto agora, como quando se tratava do PSD e de Cavaco.
É verdade que em Portugal há uma certa tendência para o abuso de poder quando ele não é bem controlado. Isso advém, essencialmente, mas não só, do facto de o Estado ter poder a mais e ser normal imiscuir-se em assuntos que nem deviam ser da sua competência. Esta é a parte credível da acusação.
A parte ridícula é confundir-se poder absoluto com o modo como ambos os Executivos – o de Cavaco Silva e o actual – governam entre tantas limitações.
O que falta ao PSD não é, pois, a denúncia do abuso de poder, embora seja bom que o faça (desde que não o transforme em central), porque esse é, também, um modo de o limitar. O que falta são alternativas.
É natural que quem está envolvido na luta política diária sinta como injustiça o facto de a maioria das pessoas, incluindo os que escrevem em jornais, não notarem as dezenas de alternativas que têm vindo a debater e a construir. Mas, em boa verdade, salvo a honrosa excepção da Segurança Social (em que ficou claro que o PSD tinha todo um modelo diferente daquele do Governo), em quase nenhum sector se vislumbra um caminho diferente. Educação? Nada. Justiça? Houve o pacto! Saúde? Críticas pontuais. Finanças? É uma questão de ritmo e estilo, porque ambos querem cortar. Economia? Nada de substancial. Agricultura? Não existe. Ambiente? Pouco. Relações Externas, Defesa, Administração Interna? São áreas de consenso.
Na verdade, há apenas um ponto em que o PSD se distingue. Quer combater a corrupção com mais empenho do que o PS ou o Governo parecem mostrar. Mas isso também é próprio de quem está na Oposição.
O que o PSD precisa não é de mais populismo ou de mais decibéis. Necessita mostrar no que difere do PS; precisa de ideias novas para o país.
Quando assim for, as alternativas saltarão à vista.
Por: Henrique Monteiro
Director do Expresso