Finalmente, o 25 de Abril também faz 50 anos. Já quase todos os meus amigos tinham chegado ao meio século de vida, e o 25 de Abril nunca mais lá chegava.
Agora com 50 anos, o 25 de Abril deve continuar a ser celebrado, mas como qualquer pessoa de meia-idade, também tem direito ao seu descanso.
Não o façam correr, nem lhe provoquem sobressaltos, não lhe peçam que se comporte como um adolescente excitado. O pior que podia acontecer ao nosso 25 de Abril era ter complexo de Peter Pan. Deixemos o 25 de Abril ser velho. A coisa boa das datas é que sobrevivem aos humanos, se não as matarmos.
Com 50 anos, se lhe der na bolha, o 25 de Abril deve andar de Maserati descapotável. Usar camisa desapertada ou de saltos altos (promovendo a igualdade de género entre o 25 de Abril e a revolução).
Como é normal aos 50 anos, o 25 de Abril às vezes não tem paciência para as democracias jovens, mas tem obrigação de lhes ensinar o que sabe, mesmo que as ache muito infantis.
Como um avô que olha para as democracias acabadas de nascer embevecido e com vontade de lhes pegar no colo. E cheio de si, a dar conselhos aos pais dessas democracias, sobre como as tratar e as manter saudáveis.
O 25 de Abril não tem 250 anos como o 4 de Julho americano, mas são 50 anos respeitáveis e, olhem, apesar de tudo, bonitos.
Tem alguma queda de cabelo que às vezes nos desespera, mas são cabelos brancos que não precisam de ser tingidos. E muito menos aparados.
Como dizia a canção sobre a papoila, esta coluna é prova de que o cabelo, como metáfora muito minha da palermice, são livres de crescer.
Nem que fosse só por isso (mas é por mais, por muito mais), pela liberdade que tenho, para lá dos meus 50 anos, de continuar a ser palerma onde e como me apetece, parabéns, 25 de Abril, e que contes muitos mais.
* O autor escreve de acordo com a antiga ortografia