AD(ura ou não dura)?

Escrito por Carlos Peixoto

“Luís Montenegro já demonstrou que sabe vencer as expectativas. Foi assim na disputa pela liderança do PSD, que só ganhou à segunda, foi assim na campanha eleitoral e nos debates que ocorreram, onde surpreendeu pela positiva e conseguiu conquistar eleitorado, e vai ser assim no Governo (…)”

Há dois anos o PS ganhou as eleições legislativas com maioria absoluta e todos acharam que o seu mandato ia até ao fim. Não foi. Casos e imprevistos vários acabaram com ele ao fim de 21 meses. Agora a AD ganhou estas eleições com uma escassa maioria relativa, e todos acham que o seu mandato não vai até ao fim. Com realismo, é provável que não vá, mas pode ser que dure mais do que se espera.
Luís Montenegro já demonstrou que sabe vencer as expectativas. Foi assim na disputa pela liderança do PSD, que só ganhou à segunda, foi assim na campanha eleitoral e nos debates que ocorreram, onde surpreendeu pela positiva e conseguiu conquistar eleitorado, e vai ser assim no Governo, que, para além de ter ministros bem escolhidos e teoricamente preparados, vai apresentar nos primeiros meses medidas populares suportadas no excedente financeiro dos cofres do Estado. Será difícil de entender que não surjam rapidamente propostas e soluções para os professores, para os polícias, para os pensionistas e reformados, para os funcionários de justiça e para os jovens. É claro que a seguir vêm as reivindicações das forças armadas, dos bombeiros, dos enfermeiros, dos técnicos de diagnóstico e terapêutica, dos advogados oficiosos, dos funcionários públicos, entre outras, mas isso são os ossos do ofício e as agruras da governação de que nenhum primeiro-ministro se safa e que tem de saber gerir com mestria.
Conseguindo este Governo “acalmar” as classes sociais e profissionais a quem fez promessas, e fazendo-o até às eleições europeias de junho próximo, não só pode garantir um resultado airoso nessas eleições e superar leituras políticas negativas, como tem praticamente assegurada a aprovação do orçamento para 2025, com as abstenções do Chega e do PS. Daí para a frente, tudo depende da sua capacidade de negociação casuística com estes partidos, diploma a diploma, assunto a assunto, orçamento a orçamento. Mais do que isso, e na ótica das oposições à esquerda e à direita (a AD está sozinha e encurralada no centro), tudo será determinado pela taxa de popularidade que o Governo tiver em cada momento e que é fácil de medir em estudos de opinião. Em democracia, os políticos são sempre escravos da opinião pública e vão invariavelmente para onde ela está virada. Se a aprovação do eleitorado relativamente à governação for positiva, ninguém se arrisca a derrubá-lo e a provocar uma crise política. Caso contrário, tem os dias contados numa moção de rejeição ou até mesmo numa demissão por iniciativa própria em face da impossibilidade de gerir o país com o seu programa.
De uma coisa a AD pode ter a certeza. André Ventura tem uma inteligência ímpar e já percebeu há muito tempo que quanto mais “circo e confusão” se gerar mais o Chega cresce, e por isso não teve nenhuma dúvida em pôr gasolina naquele episódio em torno da eleição do presidente da Assembleia da República. Se a AD e o Governo lhe continuarem a dar trunfos para se vitimizar seja naquilo que for, reforçando aquela linha vermelha do “não é não”, não há outro caminho que não seja o PS ter de dar a mão ao Governo para este poder sobreviver, e não há melhor argumento para o líder do Chega dizer que PS e PSD são a mesma coisa, que se entendem em tudo, inclusive nos tachos, e que ele é a única alternativa que o país tem. É neste complexo “filigrana” que Luís Montenegro vai ter de trabalhar. Quem o conhece sabe que é um erro subestimá-lo, mas já se viu que ter de lidar com outro partido que tem um líder muito astuto e obteve mais de um milhão de votos, vai ser um quebra-cabeças. Não sou vidente, mas se tivesse que apostar, e se me dissessem que não surgirão nos próximos tempos factos de relevo político hoje totalmente imprevisíveis, punha a maioria das fichas na tese de que esta AD governará o país até ao início de 2026. Como diz um amigo meu, só Deus sabe!

* Advogado e presidente da Assembleia Distrital do PSD da Guarda

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Carlos Peixoto

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