«Muitos heróis são apenas cobardes que fugiram para o lado errado e tiveram sorte. Gente que nunca teve uma posição, uma ideia, nunca incomodou ninguém, e é eleito por ser o mínimo denominador comum na hipocrisia dos consensos. Quando a sociedade nivela por baixo, pela mediocridade, há gente rasteira que chega ao sucesso com facilidade. Os ratos quando são muitos, metem medos aos gatos. Contudo, apesar do aparente sucesso não deixam de ser ratos».
Por vezes, diz-se de alguém que «é um homem de sucesso». Mas, como se mede o sucesso de um homem? Pela conta bancária? Pela progressão na carreira? Pela notoriedade social?
São muitos os que pelo seu mérito e esforço, chegaram a uma posição de destaque, mas há que separar o trigo do joio. Também conheço quem tenha muito dinheiro e não me mereça um elogio pela forma como o ganhou. Quem tenha progredido na carreira apenas pelo simples mérito de não ter morrido pelo caminho. E pessoas que são reconhecidas sem que tenham feito nada de notável.
Muitos heróis são apenas cobardes que fugiram para o lado errado e tiveram sorte. Gente que nunca teve uma posição, uma ideia, nunca incomodou ninguém, e é eleito por ser o mínimo denominador comum na hipocrisia dos consensos. Cesta de mão, sempre prontas a usar. Quando a sociedade nivela por baixo, pela mediocridade, há gente rasteira que chega ao sucesso com facilidade. Os ratos quando são muitos, metem medos aos gatos. Contudo, apesar do aparente sucesso não deixam de ser ratos.
Rui Barbosa, um notável político e escritor brasileiro, escreveu um dia: “De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantar os poderes nas mãos dos maus, o homem chega desanimar-se da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto.”
Felizmente, ainda conheço gente notável, com honra, com valores, sem vergonha da honestidade. Talvez muitas destas pessoas, não tenham feito fortuna, não tenham sido eleitas para cargos importantes. São pessoas de valor que permanecem nos seus cantos, fiéis a si mesmas. Não se venderam. Não se diminuíram enquanto pessoas. Não se deixaram pisar. Não entregaram a alma ao diabo. Como diria Ernest Hemingway, são homens que podem ser destruídos – e alguns foram – «mas não derrotados». Estiveram de pé, com os seus valores. Lutaram pelo que acreditavam ser certo, mantiveram-se no rumo das suas ideias, fiéis aos seus conceitos de justiça e honestidade.
Serão pessoas de sucesso? Muitos dirão que não. Eu digo que sim, porque mais importante que a meta é a forma como seguimos pelo caminho. “Só vou por onde me levam meus próprios passos… Não sei por onde vou. Não sei para onde vou – Sei que não vou por aí!”, escreveu José Régio.
Seguir o seu caminho, pela sua cabeça, sem nunca chegar a ter vergonha de si próprio, não será uma prova de sucesso? Quantos se podem orgulhar disso?
Por: João Morgado
Director www.kaminhos.com