A um mês da celebração dos 50 anos da Revolução do 25 de Abril de 1974 vivemos um momento de surpreendente indecisão política. Não é um tempo de incerteza como o que se viveu a seguir à Revolução, com todas as dúvidas que se instalaram com a mudança de regime, mas é um estranho momento de indeterminação da governabilidade, depois de umas eleições cujo resultado final ainda não sei (no momento que escrevo estas linhas). Mas não há dúvidas que o país está mais dividido e com uma nova realidade político-partidária.
A fragmentação eleitoral terá consequências imprevisíveis, sendo que a mais provável é voltarmos às urnas no próximo ano – e em democracia isso não é um problema, é uma virtude: “O povo é quem mais ordena”. Evidentemente que os ciclos curtos e muitos curtos, as legislaturas interrompidas e a interrupção da governação não permitem decisões de fundo e a necessária planificação e governação estruturante para um país. Muitos países voltam às urnas tantas vezes como as necessárias para encontrar soluções governativas e, por vezes, ficam mesmo num limbo sem governo durante meses até que as maiorias emanem da vontade popular ou dos compromissos parlamentares: não há mal nenhum, é a democracia a funcionar – veja-se o que ocorreu na Bélgica ou em Espanha; olhe-se para o que se está a passar nos Países Baixos…
Como bem recordamos, chegámos aqui após a queda de um governo de maioria absoluta. Nessa alucinante manhã de 7 de novembro de 2023, António Costa demitiu-se na sequência das suspeitas levantadas sobre si numa investigação de que continuamos sem saber nada. Ou quase. A Justiça faz o seu caminho. E o governo de Portugal caiu. A estabilidade governativa acabou às mãos do Ministério Público. Na Madeira aconteceu o mesmo, ou quase, com o Funchal a ficar sem autarca e a Madeira sem governo regional – com Miguel Albuquerque a agarrar-se ao poder e a não ceder perante a falta de clarificação ou fundamentação da acusação. Na Guarda, a AD substituiu o candidato escolhido pelas bases, Rui Ventura, porque, entre denúncias anónimas e o gosto por marisco, o presidente da Câmara de Pinhel vai ter de se justificar na Justiça – e assim se arrasa com uma carreira de mais de vinte anos de dedicação à coisa pública, ainda que a instabilidade política jogará a seu favor permitindo-lhe regressar pela porta grande nas próximas legislativas.
E, assim, enquanto a governabilidade se discute entre moderados, com os populistas à espreita, ao recordarmos a história de Portugal dos últimos meses, mesmo sabendo que a maioria dos portugueses ansiava por uma mudança, pela nossa cabeça perpassa uma pergunta: valeu a pena? O grito do presidente do Supremo sobre o país da corrupção afinal é só isto? Denúncias anónimas que destroem vidas e investigações inconclusivas? Num país onde o “jeitinho” está institucionalizado, e onde quem não conhece ninguém fica à espera toda a vida, será aceitável perseguir ou investigar tudo o que mexe? Para onde vamos?
O próximo governo vai aproveitar o excedente orçamental e o lucro da Caixa para dar tudo a todos. Vai satisfazer as exigências dos polícias, aumentar os médicos em 20 por cento, recuperar o tempo de serviço dos professores, pagar mais aos juízes, aos enfermeiros, aos guardas, aos funcionários… Depois se verá. Um dia de cada vez!
PS: Finalmente a Guarda vai ter um monumento ao 25 de Abril…
Amanhã se verá…
“A fragmentação eleitoral terá consequências imprevisíveis, sendo que a mais provável é voltarmos às urnas no próximo ano – e em democracia isso não é um problema, é uma virtude: “o povo é quem mais ordena””