Hordas de gente sem afazeres, pelo menos àquela hora, ladeavam as ruas de acesso ao tribunal para aplaudir a saída de uma arguida. Não se sabe se, ao contrário do que parece ser, em si, habitual, por estar só desarranjada ou por estar, mesmo, envergonhada, ou assim outro “…ada” qualquer, a mulher caminhava cabisbaixa entre dois homens que se presumiu serem agentes de autoridade. Contudo, também podiam ser apenas seguranças privados, ou amigos pessoais da mulher e da família da mulher. Fosse como fosse, a atitude de uma contrastava com a da outra, a da horda, entenda-se, e mais fazia lembrar a dos condenados à forca, na Idade Média, a caminho da execução da sentença por entre o gáudio dos circunstantes.
As únicas diferenças, entre o sucedido por estes dias e o que há séculos sucedia, seriam os tempos e as razões dos efusivos aplausos. Aqui, a coisa aplaudida foi sempre a arguida, em vez da execução da sentença. Fenómeno tão mais intrigante, quanto mais se reparar no facto de que, a boa da mulher, não estava ali por defender, de forma ilícita, como acontece tantas vezes com quem dá o corpo ao manifesto, por si e pelos outros, qualquer nobre causa. Não. Do que se sabe, estava ali por ser alguém que mudara a sua “situação profissional” quando deixou de ser só integrante de uma claque futebolística e casada com alguém que, presume-se que de forma colaborativa, a pôs a viver acima do que os declarados rendimentos de ambos permitiam. Isto e o facto de esse mesmo marido, quando não estava a ameaçar fortemente quem não cumprisse com o que ordenava, nas lides marginais a um clube de futebol, estar a incitar, quem o rodeava, à violência.
Mas, como tontos e apoiantes de tontos sempre existiram, se não fosse dar-se o caso de acontecer o que a seguir se viu, nem seria por nada disto que nos daríamos ao trabalho de escrever sobre o assunto. E, embora o que a seguir se viu fossem os telejornais a abrir e a fechar com a notícia do que estava a acontecer a estes dois e a mais uns quantos seus conhecidos, além, obviamente, das redes virtuais e digitais terem sido logo inundadas por todo o tipo de manifestações de gente que empenhadamente gosta de opinar sobre casos destes e outros semelhantes, também não foi por nada disso. Já estamos todos habituados a que os dias noticiosos sejam preenchidos por qualquer coisa.
O que ditou que isto se escrevesse foi a notícia de a boa da mulher, como mãe dedicada e preocupada, estar muito inquieta com o trauma infligido pela polícia, aquando das buscas domiciliárias, às suas petizas. Logo às dela, que, qual mãe extremosa, sempre agiu e se comportou de maneira a não expô-las a situações traumatizantes. Daquelas situações que assustam quase tanto como as a que o marido terá exposto muitos e muitas. Persistindo a dúvida sobre se a mulher conhecia assim tão bem o marido, não poderemos afirmar que, enquanto mulher e mestre em psicologia-não-sei-das quantas, soubesse do seu alegado mau feitio para com quem não lhe seja próximo. Agora, que é verdade que muitas dúvidas restarão quanto ao seu próprio feitio e aos seus certificados em psicologia-não-sei-das quantas, é. Desde logo porque tamanha certificação não se coaduna, lá muito bem, com a situação relatada.
Concluindo, o que acabou por levar a que aqui se escrevesse sobre hordas a aplaudir pessoas socialmente irrelevantes e de conduta muito duvidosa foi apenas o cheiro a lixívia do palco para onde estas notícias, os donos dos veículos destas notícias, em nome de um lucro, infelizmente, certo, tratam de arrastar os noticiados. Estes e outros que tais.
O fim da macacada?
“Persistindo a dúvida sobre se a mulher conhecia assim tão bem o marido, não poderemos afirmar que, enquanto mulher e mestre em psicologia-não-sei-das quantas, soubesse do seu alegado mau feitio para com quem não lhe seja próximo. “