A inovação voltou a ombrear com a tradição na sétima edição do Festival de Sopas da Serra da Estrela, realizado no domingo em S. Paio, no concelho de Gouveia. Mas, no final, a melhor sopa do certame foi uma típica e generosa “Sopa das Vindimas da Beira Alta”. A receita de Alfredo Saraiva, carteiro de profissão radicado na freguesia de São Martinho, no vizinho concelho de Seia, encheu as medidas do júri, que foi unânime quanto ao vencedor deste ano.
Mas não se pense que a escolha foi fácil. Do cardápio constaram verdadeiros desafios como a “Sopa de Pêra com Tosta de Pão Centeio e Queijo da Serra”, um “Aveludado de Alecrim com Farinheira” ou a “Sopa de Neve”. Mas a tradição predominou nas sopas à lavrador, à “moda da avó” e da pedra. «Sopas grossas que não se vêem nos restaurantes e são características daqui», enalteceu Manuel Rodrigues, que presidiu ao júri face à ausência de Hélio Loureiro, afectado por uma indisposição. Para este chefe de cozinha, o festival está «cada vez melhor» quanto à qualidade dos concorrentes. «Tivemos sopas de grande categoria, o que dificultou o nosso papel, pois todas mereciam o primeiro prémio», admitiu. No entanto houve que decidir e, desta vez, os “cozinheiros” do município anfitrião estiveram em grande, ao arrebatarem quatro das cinco distinções em causa. A começar pela “Sopa da Matança”, do restaurante “Toca do Lagarto, em Nespereira, que venceu na categoria dos profissionais de restauração, enquanto a “Sopa de Castanhas à Pastor”, confeccionada pelo Rancho Folclórico de Gouveia, conquistou o galardão das colectividades. Já a Comissão de Pais da EB1 de S. Pedro, na “cidade-jardim”, venceu na categoria “Outras Sopas”, com uma sugestiva “Sopa dos Traquinas”, e o jardim de infância de Gouveia ganhou na versão para sopas de castanhas, com uma proposta no mínimo histórica, a “Sopa à D. Afonso Henriques”.
Alternativas não faltaram para os muitos apreciadores e curiosos que abancaram no recinto da Adega Cooperativa de S. Paio. Segundo a ADRUSE – Associação de Desenvolvimento Rural da Serra da Estrela, que organizou o festival, foram confeccionados mais de mil litros de sopas e servidas três mil tigelas, vencendo por completo a logística do certame. Um cenário realçado por Manuel Rodrigues: «São iniciativas como esta que reforçam a importância da sopa na gastronomia nacional, porque os visitantes provaram receitas tradicionais muito boas e foram surpreendidos com algumas novidades. Uma coisa é certa, ninguém saiu daqui de barriga vazia», desconfia, garantindo que a sopa não corre o risco de desaparecer das ementas lusas. De resto, o também formador de restauração destacou o carácter inventivo de algumas propostas, como a “Sopa de Pêra com Tosta de Pão Centeio e Queijo da Serra”, e acredita que os participantes esforçam-se para descobrir «soluções gastronómicas e a introduzir novos ingredientes». Álvaro Amaro, presidente da ADRUSE, anunciou para breve a edição das receitas dos seis primeiros festivais, uma iniciativa cujo sucesso reside no facto de «não ser um certame industrializado, mas sim um acto de cultura, popular, associativo e de cunho artesanal».
Luis Martins