P – 853 novos alunos nesta primeira fase de acesso ao ensino superior são satisfatórios para a instituição?
R – Para o número de vagas abertas, considero que são poucos. Agora, resta saber quantos irão efectivamente fazer a matrícula ou pedir a transferência para outra instituição. No ano passado cerca de 300 alunos pediram a transferência ou nem sequer vieram inscrever-se. Se esse número se mantiver, na realidade só entrarão 500.
P – Acha que a universidade está adaptada para funcionar este ano de acordo com o Processo de Bolonha?
R – Não. O mais importante é saber se estas reorganizações, que estão a ser feitas a nível nacional, estão ou não de acordo com o espírito de Bolonha. O que deveria ter sido feito desde o início era dar a possibilidade de mobilidade interna ao aluno que entra nesta ou noutra universidade. Poderia ter um conjunto de cadeiras opcionais que ele próprio escolheria, e que não teriam que ser necessariamente as do seu curso, durante os primeiros três anos. Assim, um aluno que entrasse, por exemplo, em Economia poderia optar ao fim destes três anos por outro curso em função das opções que tinha feito.
P – Mas aí a responsabilidade é da instituição ou da administração central?
R – É uma responsabilidade de todos e começa logo pela reestruturação do processo. Os alunos chegam ao ensino superior completamente inadequados a este sistema. Não se pode construir uma casa pelo telhado, mas pelas bases. E era isso que deveria ter sido feito, porque no secundário não têm este sistema nem esta autonomia. Deveria ter-se articulado tudo desde que a criança entra no ensino escolar. Outra coisa que as universidades poderiam equacionar, independentemente desta mobilidade interna entre os vários cursos, era o facto dos alunos terem um determinado número de cadeiras essenciais e que fazem parte desta era da globalização.
P – E que cadeiras seriam essas?
R – Os alunos da UBI deveriam ter línguas, a começar pelo Português. O domínio da língua é fundamental em todos os cursos da universidade, tanto a nossa como as estrangeiras. As ferramentas das novas tecnologias da informação também são importantes, assim como a matemática. Estas cadeiras deveriam ser obrigatórias. Desta forma, e independentemente do curso que escolheriam inicialmente, os estudantes teriam a possibilidade de escolher outra vocação.
P – Na sua opinião, esta reestruturação dos cursos devia ter sido adiada?
R – Sim. Deveria haver alguns cursos-piloto para serem testados, à semelhança do que a Universidade de Coimbra está a fazer. Começou com três este ano e para o ano é que entram no Processo de Bolonha. É necessário uma experiência nalgumas áreas para colher o “feedback” positivo e negativo.
P – Na UBI, a implementação de Bolonha está desorganizada?
R – Completamente. Chega-se ao cúmulo dos próprios serviços académicos não saberem como é que as coisas vão funcionar este ano lectivo. O sistema informático não consegue conjugar o sistema antigo com o novo. No primeiro dia de matrículas dos caloiros [segunda-feira] já havia, às oito da manhã, uma fila que chegava ao exterior da universidade com alunos com problemas, nomeadamente cadeiras que não batem certo, cursos que, teoricamente, só deveriam entrar no primeiro ano adequados a Bolonha e no dia seguinte já eram todos os anos do curso. Também ainda não se sabe qual o sistema de avaliação a adoptar… Portanto, acho que este ano vai ser muito complicado.
P – A Inspecção-Geral da Ciência, Inovação e Ensino Superior veio dar razão à AAUBI no caso dos critérios de avaliação. Que medidas ponderam tomar?
R – Este parecer torna possível reabrir a acção principal. Vamos tornar público o documento e dizer aos estudantes que a inspecção veio corroborar o que a AAUBI tem vindo a afirmar desde o ano passado. Por isso, aconselharemos os lesados a entrar connosco e, caso decidam avançar para tribunal, iremos dar todo o apoio. Esperamos ainda por uma resposta do reitor para dialogar connosco e chegarmos a consenso. Infelizmente, até hoje, ele não esteve disponível para discutir este assunto, mas nós vemos a reitoria como parceiro e não como adversário.