Sociedade

Interior abandonado do Garden dá lugar a escola de música

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Escrito por Efigénia Marques

O antigo centro comercial Garden, na Guarda, abriu nos anos 80 e era um sucesso na cidade mais alta. Todas as lojas estavam ocupadas e o espaço era muito movimentado, o que contrasta com a atualidade, em que há umas poucas lojas viradas para o exterior a funcionar enquanto o interior está vazio e abandonado.
João Monteiro (na foto) é natural da Guarda e é professor de música nas Atividades Extracurriculares dos dois Agrupamentos de Escola da cidade. O músico viveu na Holanda «alguns anos» e, quando voltou, sentiu falta de um espaço na cidade mais alta que fosse uma escola de música. «Quando cheguei a Portugal pensei “Quero ser professor de guitarra na minha cidade e não quero viajar de carro horas e horas”. É chapa ganha e chapa gasta com a gasolina e portagens», afirma. Por isso mesmo, em conversa com amigos, surgiu a ideia de criar uma escola de música numa das lojas vazias do Garden, no largo do antigo cinema. «Não há nada disto na Guarda, só quando havia a Associação Local de Ensaios, na Sequeira. Mas se não houver alguém a pôr dinheiro do próprio bolso, as coisas morrem nesta cidade», considera João Monteiro.
O trabalho como músico «é escasso»: «Concertos ainda tenho tido porque investi 20 anos da minha vida na música em licenciaturas, mestrados e cursos», adianta, sublinhando que «é difícil aguentar as circunstâncias, mas é preciso fazer esforços para se ter algo na cidade». O guitarrista tem trabalhado neste projeto desde o ano passado. Foi a 14 de novembro de 2022 que visitou pela primeira vez a sala que agora acolhe a Escola de Música “Mezzo Ars Studio” e, neste momento, conta com «17 alunos presenciais e alguns online (dois na Madeira, dois na Holanda, um em Lisboa e outro na Covilhã)». Nas suas aluas ensina «um pouco de tudo» porque tem a «formação toda» de música. «Comecei por tocar guitarra, que é um instrumento que abrange muitos estilos. Também sou professor de bateria e piano, tudo o que seja de harmonia ou ritmo eu consigo abranger», realça.
No fundo, os alunos de João Monteiro podem aprender «clássico, pop ou rock», mas sobretudo a «ler música, que é uma linguagem que nem todos têm. Saber ler notas, saber o que é um acorde, como é feita a música e a composição é muito importante», justifica. Os seus alunos têm entre 20 e 65 anos. O músico diz que arriscou e que, «até agora, está a ser bem-sucedido. Pouco a pouco vamos crescendo». Quanto à loja onde instalou a escola “Mezzo Ars Studio”, João Monteiro desabafa que, «se calhar, encontramos outros locais para ensaios e outras escolas de música na cidade, mas o grande problema é quando as pessoas querem “meter dinheiro ao bolso”. Os Rádio Mutante ensaiam nesta sala e uma das primeiras coisas que lhes disse foi que lhes ia fazer um preço simbólico porque, como organizadores e empreendedores, temos de dar oportunidade às pessoas», acredita João Monteiro, que acrescenta que «não posso matar as bandas, que é algo que acontece nesta cidade. Para termos mais bandas, mais concertos e mais cultura não podemos pensar sempre no dinheiro».

Sofia Pereira

Sobre o autor

Efigénia Marques

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