Em Portugal ainda subsiste muito a cultura do “inho”. Tomamos um cafézinho antes do almocinho e como à tarde pode estar fresquinho, vamos comprar um casaquinho, mas sempre à espera do descontinho, porque o dinheirinho não estica. Utilizamos muitos substantivos com diminutivo, não porque se queira retirar força ou significado às palavras, mas porque desta forma parecem ser mais doces do ouvir, transmitindo um maior sentido de intimidade ou carinho.
Mas se esta é uma das visões associadas ao uso de diminutivos, outras há que apontam para a apologia do coitadinho ou para a medianidade na escala do sucesso.
Em boa parte e com extrema tristeza, olho para a actual Guarda, de forma holística e reconheço aí, muitos dos tiques desta última visão. Vejamos por exemplo Rui Moreira, presidente da Câmara do Porto. É efectivamente um independente, que nunca militou em nenhum partido, mas que apesar de não ter essa estrutura partidária a “ajuda-lo” no percurso, é uma voz que se faz ouvir e que tem um peso mediático muito elevado.
Já nós, na Guarda, temos um presidente independentezinho, que militou num partido político durante mais de duas décadas, chegando até a ser dirigente máximo concelhio, cortando laços com o mesmo por divergência de opinião quanto à sua escolha para candidato à estrutura que actualmente preside. Desfaz-se em lamúrias pelo facto de andar há quase um ano a tentar marcar uma reunião com o senhor ministro da Saúde, sem sucesso, pese embora ser o autarca de uma capital de distrito há quase dois anos. Fraco peso político e reduzido impacto mediático este nosso representante tem, o que se reflecte na capacidade de influência junto de ministérios e outros organismos da nossa administração pública.
E a cultura do “inho” verifica-se nas ambições que norteiam este executivo. Apontam para a medianidade e nunca para o topo. Ficam contentes por a Guarda ambicionar ser a capital regional de qualquer coisa. O assim-assim já os deixa satisfeitos e o meio da tabela é um lugar excelente para os seus anseios.
Comparar-nos ou querermos ser como Viseu é uma audácia muito grande que não está nos requisitos autárquicos, devendo descer a fasquia para Torre de Moncorvo ou Vila Flor, territórios mais ao nosso alcance.
Em conclusão, é esta cultura do poucochinho que agora tem vindo a fazer escola na Guarda que eu não entendo nem posso concordar, mas pelos vistos, é a que se está a fazer.
Não sei até quando os guardenses se contentarão com tão pouco…
* O autor escreve ao abrigo dos antigos critérios ortográficos