Cemitérios

Escrito por Diogo Cabrita

“Também há os terrenos de instituições do Estado que vão ficando abandonadas. Conheço dezenas de antigos quartéis, escolas decadentes e em estado de vergonha (…) e velhos hospitais, e antigas instalações de colégios.”

Se possui um jazigo e não lhe faz obras, não limpa, a Câmara Municipal pode retomar a posse e colocar em hasta pública a edificação por cima da terra pois a terra é sempre da Câmara. Esta tradição de nunca vender o terreno tem tradição na Holanda e na Inglaterra e, portanto, terminados os sinais de vida, acrescido um prazo tido por de bom senso, o Estado faz-se gestor de tudo o que está sobre os seus terrenos. Esta ideia devia ser válida para terrenos abandonados há décadas – as florestas, os campos, e claro, propriedades espalhadas por todo o Portugal. Devemos acrescentar as edificações a que as famílias desavindas não chegam a conclusões e que se degradam e desfazem sem qualquer resolução.
Também há os terrenos de instituições do Estado que vão ficando abandonadas. Conheço dezenas de antigos quartéis, escolas decadentes e em estado de vergonha (Anadia é o exemplo maior), e velhos hospitais, e antigas instalações de colégios. Portugal insiste em construir em terrenos nunca antes construídos para evitar as decisões de expropriação compulsiva, ou mesmo a retoma dos terrenos pela governação. Às autarquias também compete o levantamento do edificado e o conhecimento dos seus proprietários. Compete notificar os proprietários do aspeto de degradação e de insalubridade. Se não se faz nada por incapacidade financeira, pode vender, ou envolver-se em negociações de parceria. O abandono é intolerável. Nos cemitérios o terreno nunca é pertença do dono do edificado, que, no final, não é realmente dono, é sim usufrutuário sob condições contratuais e de tradição. Todos os anos inúmeros jazigos vão para a hasta pública e são comprados.
Os cemitérios vivem essa decadência do desinteresse, da falta do valor da tradição e portanto estão a empobrecer as suas construções, a perder o emocional e o romântico das obras que durante centenas de anos foram gaudio de famílias abastadas e outras esforçadas. A tradição destas instituições pode ser uma boa estratégia para salvar os centros das cidades, para trazer população para a zona antiga. Portugal precisa de governação que inove, que cumpra com uma visão de navegar ao longe.

Sobre o autor

Diogo Cabrita

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