Na passada sexta-feira, dia 20 de Janeiro, na sala da Assembleia Municipal da Guarda, foi celebrado um protocolo entre o Turismo de Portugal, actual proprietário do Hotel Turismo da Guarda e a ENATUR (Empresa Nacional do Turismo), com o objectivo de requalificar o citado imóvel de modo a ser integrado na rede de Pousadas de Portugal e finalmente reabrir a toda a sociedade, com o fim para o qual foi criado.
Aparentemente, poderá ser desta que este emblemático imóvel, que tanto orgulho e boas recordações traz aos guardenses, será reabilitado e devolvido à Guarda, depois de em 2010 ter sido vendido pelo, à data, executivo autárquico socialista ao Turismo de Portugal.
Apesar de ficar satisfeito com esta suposta resolução, não deixo contudo de sentir alguma mágoa e uma certa apreensão relativamente ao seu passado e futuro, respectivamente.
Mágoa porque, para além de ser uma dor de alma passar frequentemente no centro da cidade e ver um empreendimento daquela natureza, com uma história e beleza arquitectónica ímpares, definhar a olhos vistos, saber que o problema já poderia ter sido resolvido há uns bons anos e por obstinação do Governo socialista da República nada ter sido feito. Recordo que aquando do primeiro mandato do PSD na Câmara da Guarda, o seu presidente de então, Dr. Álvaro Amaro, depois de um intenso trabalho de prospecção, foi abordado por um grupo empresarial que pretendia comprar o Hotel Turismo por 1,3 milhões de euros e transformá-lo numa moderna unidade hoteleira de 4 estrelas superior, com uma vasta oferta de serviços e funcionalidades, ao nível do que melhor se encontra por essa Europa fora. Apresentada a proposta ao Governo socialista da altura, esta foi prontamente declinada. Em Abril de 2015 o hotel foi colocado à venda por 1,7 milhões de euros num concurso que ficou completamente deserto. Em 2016 voltou a ir a concurso pelo mesmo valor e, mais uma vez, não apareceram interessados. Depois foi integrado no programa REVIVE e todos sabemos qual o desfecho. Se o proprietário do imóvel, leia-se Governo de Portugal, tivesse aceite as condições e valores propostos por aquele grupo de empresários num passado relativamente recente, muito provavelmente hoje estaríamos a usufruir do Hotel Turismo na sua plenitude e seria sem dúvida um dinamizador da actividade económica na cidade.
Fico também apreensivo porque o grupo Pestana, pela voz do seu presidente Dr. Dionísio Pestana, que actualmente gere as operações das Pousadas de Portugal e irá desempenhar um papel fulcral no futuro do Hotel Turismo, ainda há cerca de dois meses veio informar que, por motivos ligados à inflação e subida da taxa de juro, o grupo iria congelar todos os investimentos previstos para 2023. Por isso, parece-me demasiado optimista o prazo de 2025 avançado para a abertura do Hotel Turismo como Pousada de Portugal.
Não é todos os dias que a Guarda recebe num só evento, dois ministros (Economia e Trabalho, Solidariedade e Segurança Social) e um Secretário de Estado (Turismo), como foi o caso do já citado acontecimento do passado dia 20. Contudo, quem não se deve ter sentido muito confortável foi o senhor Presidente da Câmara que muito amavelmente endereçou convites para a cerimónia, tentando colar o seu nome a uma iniciativa para a qual nada contribuiu e ainda por cima ter sido completamente ignorado politicamente pelos membros do Governo presentes, pois, de todas as intervenções (e ainda foram bastantes), ninguém referiu que tivesse dado algum contributo, ainda que pequeno, para a resolução do problema.
Nestas coisas da política, não basta querer, é mesmo preciso ter peso e reconhecimento.
* O autor escreve ao abrigo dos antigos critérios ortográficos.