A Fundação José Saramago recebeu, na Guarda, o 17º Prémio Eduardo Lourenço, numa cerimónia realizada na Biblioteca Municipal Eduardo Lourenço no passado dia 13.
O galardão, no valor de 7.500 euros, foi entregue a Pilar del Rio, esposa de José Saramago (1922-2010), para quem o prémio «é o reconhecimento da amizade, entre povos ibéricos, Portugal e Espanha, e também da amizade entre José Saramago e Eduardo Lourenço». A presidente da Fundação lembrou que o escritor e o ensaísta cultivaram a amizade «ao longo da vida», tendo sublinhado que «nos honra que nos lembremos dela e recordando-a, quando fisicamente eles já não estão entre nós». De resto, Pilar del Rio recordou um episódio que viveu com o pensador aquando da morte do Prémio Nobel da Literatura. «Eduardo Lourenço apareceu no funeral de José Saramago com um saco do “El Corte Inglês” – e isso não é o que se espera de ninguém, muito menos de Eduardo Lourenço, num funeral. Então abriu o saco e lá dentro estava o “Memorial do Convento”, livro que me deu com uma dedicatória. No dia seguinte meti esse bilhete no interior do casaco de José Saramago para que fosse cremado com essa dedicatória», revelou, adiantando que só dias depois ficou a saber o que continha: «Eduardo Lourenço escreveu “Agora vais ter tempo para desfrutar da grande obra que escreveste”».
Sérgio Costa, autarca guardense, realçou a importância de José Saramago e Eduardo Lourenço, tendo sublinhado que ambos têm «uma singularidade em comum: o seu pensamento, a sua escrita e a sua saudade revelam o seu amor a estes dois países, mas não só. Para estes dois grandes nomes da cultura portuguesa a Península Ibérica sempre foi muito maior que o seu esforço físico, seja virada para mares do Sul ou para lá dos Pirinéus ambos reconheciam e veneravam a capacidade da Península Ibérica ser a verdadeira ponte entre o hemisfério norte e o hemisfério sul. Ambos reconheciam o valor capital, cultural e humano que a Península Ibérica tem e deu ao mundo», declarou o edil. Por sua vez, Carlos Reis, último vencedor do prémio Eduardo Lourenço, fez o elogio à Fundação distinguida dizendo que «é um lugar, vários lugares, por onde está representado o espírito, a mensagem, declaração de princípios do seu fundador. A Fundação José Saramago traz consigo as origens de um grande escritor, a sua formação e a confirmação da sua vocação ibérica. É trabalho para aprofundar a missão e para cumprir os princípios», disse.
Foi a primeira vez que o prémio foi entregue a uma fundação, reconhecendo assim nos seus atos «a ideia de um iberismo cultural e afetivo». O júri foi composto por 11 membros que decidiu o vencedor em unanimidade.
Carina Fernandes