Tem razão o presidente do Politécnico da Guarda, Joaquim Brigas, quando escreve no seu artigo no último “Expresso” que «interessa perceber bem» porque é que os incêndios que destruíram a Serra da Estrela em duas semanas aconteceram – e como aconteceram. Segundo ele, não se trata de apontar «falhas de eficiência» ou «procurar culpados fáceis», mas antes encontrar um caminho baseado na ciência e no conhecimento para construir uma realidade nova que, estruturalmente, seja resistente aos fogos.
O que aconteceu este agosto partiu o coração a toda a gente. Mas, se quisermos ser honestos connosco próprios – ou, no caso dos governantes e dos autarcas, com o povo que os elege – todos tínhamos a consciência que o Parque Natural da Serra da Estrela estava ali, magnífico em beleza, mas frágil e desprotegido, à espera de arder se acontecesse… O que sucedeu.
Bem podem vir agora falar de «incendiários» e de meios de combate «pouco eficazes». A verdade é esta e a responsabilidade é de todos: as coisas estavam prontas para arder! E, portanto, arderam. Muito infelizmente…
Só com uma noção precisa e lúcida da realidade se poderá mudar, neste caso para melhor, a própria realidade. E tornar a Serra da Estrela resistente aos fogos irá dar muito trabalho, irá exigir muitos recursos, públicos e privados. Irá exigir uma nova mentalidade, novas práticas. Que proprietários vendam terras e que estas sejam compradas com lógicas económicas de produtividade e de lucro – ou seja: com lógica empresarial.
Para não ter incêndios, o Parque Natural da Serra da Estrela tem de ser sustentável, não só em termos ambientais, mas também económicos. E só será sustentável se, juntamente com os dinheiros públicos, houver uma atividade privada viável, que crie riqueza, empregos e que fixe pessoas. Sem riqueza, empregos e habitantes, não há solução, não há viabilidade. Não há futuro – o que haverá, fatalmente, serão incêndios.
Há que começar por listar as fragilidades. Por saber o que cada entidade tem de fazer, desde o regime de propriedade, ao regime fiscal, passando pela seleção de espécies a plantar, o seu ordenamento, quem constrói acessos e onde, quem gere o quê.
Mas só se construirá uma realidade futura interessante, sustentável e resistente, nomeadamente aos fogos, se cada pessoa, cada empresa, cada produtor e cada associação, derem um salto de nível, se qualificarem e se tornarem mais competitivos. Dinheiro, sobretudo da Europa, não falta. O que ainda falta são competências, e visão, para o aplicar bem.
* Dirigente sindical