Todas as pessoas importam – mesmo aquelas que vivem longe dos grandes centros populacionais. Como diz Eduardo Lourenço: «Cada pessoa é um mundo. Mesmo as pessoas que têm momentos de menos visibilidade e relevo são um mistério a que nunca daremos a volta».
Nesse sentido não poderia deixar de recordar que se encontram inscritas na nossa Constituição, no seu Art.º 9º, como tarefas fundamentais do Estado, a promoção do bem-estar e da qualidade de vida do povo, a igualdade real entre os portugueses, a efetivação dos direitos económicos, sociais, culturais e ambientais, a proteção e valorização do património cultural do povo português, a defesa da natureza e do ambiente, a preservação dos recursos naturais e ainda assegurar um correto ordenamento do território. É exatamente isto que o Estado tem obrigação de fazer. E há muito a fazer na Guarda: na saúde, no emprego, na cultura, na educação, no ambiente, no desporto, na ação social.
Segundo notícias vindas a público, há graves carências de pessoal médico em diversos serviços da ULS da Guarda, situação que se arrasta há já alguns anos. Ainda na semana passada, pacientes, que entraram na urgência devido a uma queda, tiveram que ser transportados particularmente para outras cidades do país por alguns constrangimentos assistenciais. Aqui teriam que esperar mais de duas semanas para que pudessem ser submetidos a uma cirurgia. O serviço de Ortopedia não teve capacidade de prestar o devido cuidado a estes utentes. E se fosse no serviço de Cardiologia? E de Oftalmologia? E de Anestesiologia? Ouvimos muitas vezes dizer que relativamente à contratação de profissionais de saúde, designadamente médicos e enfermeiros, a capacidade de atração das regiões do interior é inferior às do litoral, não obstante os reiterados esforços de discriminação positiva daquelas regiões. São preocupantes as carências existentes no Hospital Sousa Martins – que são, aliás, do conhecimento público – ao nível de especialidades médicas e do quadro de pessoal de enfermagem. Esta grave carência de recursos humanos pode colocar em causa a qualidade dos serviços prestados, bem como a resposta nalgumas valências fundamentais. Não deveria a ULS assegurar, no âmbito da sua missão, atribuições e competências, o acesso da população da sua área geodemográfica a cuidados de saúde seguros e de qualidade?
A região do interior vive uma estranha relação com o fator humano que impede que as pessoas nela se fixem. Não é por falta de discurso e de boas intenções que o desenvolvimento do interior deixa de acontecer, mas sim por razões que têm a ver com a ausência de implementação de políticas efetivas. O problema do interior é de enorme gravidade e não se resolve naturalmente. É preciso agir. E a Saúde é um fator fundamental. Há muito a fazer em ações de dinamização empresarial, única forma de inverter e estancar a tendência de perda de população. É necessário sinalizar, inequivocamente, que em matéria de economia poderemos estar a iniciar um novo ciclo, caso se concretizem as melhores expetativas relativamente à canalização de verbas do PRR para as regiões do interior. A dinamização da vida cultural e a animação da cidade são também indispensáveis para reter as pessoas e convidar outras a vir à Guarda. Mas a Saúde é um dos fatores impreteríveis para tornar a Guarda ainda mais atrativa. Neste concelho do interior, devemos lutar por aquilo de que somos credores e que é um direito explicitamente inscrito na nossa Constituição. Todas as pessoas importam.
* Deputada do CDS-PP na Assembleia Municipal da Guarda