Não são pequenas as semelhanças entre os tempos que hoje vivemos e os dias em que, há 822 anos, a Guarda foi elevada a cidade e a sede de Diocese.
Há oito séculos, Portugal começava um longo processo de estruturação do Estado, da sociedade e da economia, é disso que nos dá conta o Foral concedido por D. Sancho I. Aos “povoadores da Guarda” o foral envia uma mensagem de estímulo, de incentivo e de confiança para que construam uma cidade que seja uma plataforma militar, económica, logística e religiosa da nação que, então, dava os seus primeiros passos.
Hoje Portugal também vive tempos que têm de ser de mudança, de evolução para um patamar diferente do seu nível de desenvolvimento humano e material. Há duas décadas, por volta do ano 2000, o país estagnou: desde então e apesar de várias melhorias que indubitavelmente têm surgido em muitos setores, Portugal tem vivido um processo de empobrecimento relativo. O país não andou para trás, mas afastou-se, divergiu, dos níveis de desenvolvimento dos países do centro da União Europeia com os quais se compara. Estamos hoje mais longe dos níveis de vida da Alemanha, da França ou da Bélgica e, o que custa mais a aceitar, fomos ultrapassados em muitos indicadores por países que eram mais pobres do que nós há vinte anos, como a República Checa, a Eslovénia, a Finlândia, as repúblicas do Báltico, etc.
A razão fundamental do início dessa divergência é conhecida: o défice de qualificações da população com que Portugal entrou no século XXI tornou inevitável a ultrapassagem por países que, embora tenham vivido debaixo da ditadura soviética, tinham níveis de escolaridade formal muito superiores ao português
Hoje, porém, esse problema já não existe. O número de diplomados que fazem parte do mercado de trabalho em Portugal subiu de 12,8%, em 2000, para perto dos 37%, em 2020, uma percentagem que coloca o país, pela primeira vez na história, perto dos melhores níveis europeus nesta matéria.
A Guarda e a sua região não são exceção: o Instituto Politécnico da Guarda tem qualificado a população e, nos últimos anos, o ritmo e a qualidade dessa qualificação de nível superior produzida por cursos técnicos profissionais, por licenciaturas e por mestrados não tem parado de aumentar.
Disto resulta que a Guarda tem, hoje, condições para um tipo de desenvolvimento social e económico que era impossível até há pouco tempo. O desenvolvimento que só é possível quando as indústrias e os serviços que incorporam alta tecnologia têm, localmente, recursos humanos altamente qualificados à sua disposição.
Os “povoadores” a que se dirigia D. Sancho no foral chegavam à Guarda com muito poucas competências, à exceção dos judeus. Hoje, os “povoadores” da Guarda estudam no IPG e constituem uma bolsa extraordinária de empreendedores e de mão de obra qualificada para a economia digital, para a indústria 4.0, para o turismo sustentável, para o setor da saúde e para os serviços públicos mais sofisticados.
Hoje a Guarda está preparada para um novo foral. Tem, formados no seu IPG, quadros de primeira água para todos os setores de atividade.
* Presidente do Instituto Politécnico da Guarda