P- Há cerca de 20 meses que não havia um evento importante por causa da pandemia. A Feira da Castanha é um regresso à normalidade?
R- Sim. De facto, Trancoso é uma terra de feiras, de grandes mercados e grandes eventos e fruto da pandemia que atravessamos, já lá vão 20 meses, que o município deixou de organizar esses grandes eventos que fazem parte do calendário de atividades de Trancoso porque o último foi mesmo a Feira do Fumeiro de 2020.
P- Voltemos à ideia dos eventos em Trancoso e aquilo que representam, nomeadamente para economia. O grande evento é mesmo a Feira de São Bartolomeu, em agosto, mas havia outros. A sua não realização foi uma tragédia?
R – Sim, não podemos esquecer que esta pandemia foi a maior crise das nossas vidas e por isso deixou marcas profundas nas famílias, nas empresas e nas instituições. E por isso a Câmara Municipal teve de lutar, procurando ajudar as pessoas neste período deixando de arrecadar muitas receitas e ajudando as IPSS, as escolas, as PME’s e todos aqueles que precisavam. Foi de facto difícil e, além de não cobrarmos essas receitas e termos de investir muito nas pessoas, tivemos um apoio à economia local ao qual alocamos 250 mil euros e em que ajudámos mais de 120 empresas. Por outro lado, também não se realizaram esses eventos que em Trancoso têm uma importância enorme porque conseguem atrair milhares e milhares de pessoas ao concelho, como a Feira da Castanha, que regressa este fim de semana; a Corrida da Liberdade, que, em 2022, queremos que seja um evento desportivo do maior que há, e também vamos apostar forte na recriação da batalha de Trancoso no nosso feriado municipal, a 29 de maio. As Bodas Reias, em junho, que evocam o casamento de D. Dinis com a rainha Santa Isabel, é outro fim de semana que atrai milhares de visitantes, depois temos o Festival de Música no Castelo, a Feira de São Bartolomeu no mês de agosto, com dez dias importantíssimos para a economia local; o Festival das Vindimas e de Folclore em Vila Franca das Naves, a Feira da Castanha e a Magia de Natal. Ou seja, Trancoso tem este conjunto de grandes eventos que são importantes para a economia local, para a restauração, a hotelaria, os cafés e sobretudo porque são uma oportunidade para visitar o nosso magnífico centro histórico.
P- Foram 20 meses com a vidas suspensas, porque foram 20 meses sem atividade?
R- Sim foram, mas nós notamos que as pessoas estão mais ávidas de recomeçarmos um pouco a vida normal, dentro desta normalidade que ainda vivemos.
P- Estamos então todos preparados para a normalidade e começamos pelas castanhas…
R- Sim, este é o primeiro grande evento que vamos realizar desde o início da pandemia, embora com muito cuidado e cautela. E porque nós só realizamos todos estes eventos porque temos condições naturais para os realizar, não só estas festas, como o mercado semanal da sexta-feira.
P- A feira semanal já está a funcionar de forma normal?
R- Sim, o mercado semanal está a funcionar normalmente e tem crescido muito. A Câmara Municipal também isentou todos os feirantes desde o início da pandemia e já está definida que essa isenção da taxa de ocupação vai manter-se até ao final de 2021. Foram estas medidas de apoio que a autarquia tomou que fizeram com que o mercado continuasse. É certo que estivemos 12 semanas sem a realização do mercado semanal e isso afetou muito o comércio e a nossa economia local, mas o mercado de sexta-feira é mais um ponto forte de Trancoso, onde podemos encontrar um pouco de tudo, desde os produtos agrícolas na praça, como calçado, vestuário, ferragens, artigos para o lar… As feiras e mercados fazem parte da identidade cultural de Trancoso.
P- Quais as propostas que destaca da programação desta Feira da Castanha e Paladares de Outono?
R- Este evento já é de grande dimensão, este ano coincide com um fim-de-semana alargado, portanto serão quatro dias (29, 30 e 31 de outubro e 1 de novembro) com um programa excelente do qual nos orgulhamos por ser muito rico e muito variado. Vamos para além da animação, que é importante, e dos concertos, e contamos com jornadas técnicas sobre o castanheiro, palestras, sessões de showcooking, os concursos da melhor castanha e da doçaria da castanha, entre outras atividades…
P- Quanto à doçaria, hoje já há mais doces com castanha em Trancoso?
R- É uma aposta nova, isto começou sobretudo com um protocolo que a Câmara Municipal tem, desde 2015, com a Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD) numa aposta muito clara no setor da castanha. Todo este acordo, que foi renovado em 2019 e irá até 2024, fez com que houvesse mais dias abertos, ações de formação, para falar do castanheiro em si, para falar do tratamento e do cultivo por forma a termos uma maior quantidade e melhor qualidade da castanha. E nessa colaboração temos tido de facto alguns dias mais virados para a doçaria da castanha com sessões de “showcooking” com especialistas da área. Até porque a incubadora de empresas que estamos a construir e que, em breve, vai abrir terá um espaço destinado para isso, com uma cozinha industrial apropriada e também um espaço de degustação muito relacionado com a castanha. Nós queremos fazer uma aposta, não só com os produtores de castanha, que já são mais de 900, como na questão da culinária e doçaria.
P- Como está atualmente o setor da castanha?
R- É de uma importância enorme em Trancoso porque temos uma área de cultivo de cerca de 1.400 hectares, mais de 1.300 soutos com cerca 150 mil castanheiros. Ultimamente tem-se procedido ao plantio de alguns milhares de novos castanheiros no concelho.
P- Há inclusive um projeto de germoplasma em desenvolvimento, explique-nos do que se trata?
R- No âmbito de um projeto denominado “TrancastNut”, celebrado com a Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, está prevista a criação de um souto de germoplasma onde foram plantados cerca de uma centena de castanheiros híbridos, da melhor qualidade de castanha martaínha que existe aqui em Trancoso. Portanto, foram recolhidas algumas enxertias nos melhores soutos do concelho que agora foram aplicadas nesse banco de germoplasma para que depois possam ser disponibilizadas a todos os produtores.
P- O objetivo é que os produtores do concelho tenham bons pés de castanheiro?
R- O objetivo é mesmo esse, que daqui a amanhã esteja feita uma seleção da melhor castanha do concelho, sobretudo na martaínha, para distribuir essas enxertias por todos os produtores do concelho. É de facto um projeto original.
P- E quando acha que poderá haver resultados desse projeto?
R- Provavelmente daqui a um ou dois anos estaremos em condições de fornecer enxertias desse souto a todos os nossos produtores. Como disse, são mais de 900, temos uma produção de 2.500 a 3.000 toneladas por ano, o que equivale a um rendimento de cinco a seis milhões de euros se forem vendidas entre os 2 a 3 euros por quilo. A par de outros setores, no agrícola a fileira da castanha é de uma importância muito grande para o concelho de Trancoso. E por isso culminamos o ano, além de muitos dias abertos, com muitas reuniões com os agricultores porque qualquer setor económico para ser rentável precisa de ter um conhecimento científico e é isso que a UTAD nos traz…
P- Já falou atrás da relação com a UTAD em termos de estudos, que outras aportações tem esse acordo para esta fileira?
R- Mais de 200 produtores participam habitualmente nesses dias abertos, que organizamos com regularidade sobre os mais diversos temas, desde as enxertias, as doenças do castanheiro, etc… Depois existe uma parte prática nos diversos soutos que temos, onde são aplicados os conhecimentos adquiridos nestas formações.
P- Que tipos de apoios o município tem disponibilizado aos produtores de castanha?
R- O setor agrícola ainda representa algo como 30 por cento da atividade económica do concelho de Trancoso, o que é de facto muito importante. Sem dúvida que a fileira da castanha é a mais importante, onde fizemos uma aposta muito forte e em que, por exemplo, já disponibilizamos as análises dos solos de forma gratuita. Nesse protocolo com a UTAD, que ronda os 30 mil euros por estes quatro anos, é uma ajuda muito importante porque os agricultores participam, frequentam essas ações, têm formações e já houve anos em que distribuímos exemplares de castanheiros aos nossos produtores de forma a aumentar significativamente o plantio do castanheiro. Há sempre alguns prémios e a participação na Feira da Castanha.
P- Mas tecnicamente também há essa colaboração por parte do município? Como está neste momento o projeto INOVCAST?
R- Todos os setores estão interligados, o património, o turismo, a agricultura, com os produtos endógenos como são a castanha, os vinhos ou o azeite. Estamos a fazer também uma aposta grande na requalificação do nosso património e esse caso em concreto da incubadora de empresas do projeto INOVCAST, que ficará situado no antigo edifício da GNR, teve alguns contratempos por causa, principalmente, da necessidade de realizarmos trabalhos de arqueologia durante seis meses. Essas escavações foram terminadas em agosto e já foi enviado um relatório para a Direção Regional de Cultura do Centro e para Direção-Geral do Património Cultural, estamos apenas a aguardar a aprovação desse relatório para a obra continuar. A empreitada esteve parada durante seis meses, mas agora é expectável que dentro de algumas semanas o trabalho da incubadora de empresas possa recomeçar.
P- Qual a sua atividade ou função? Haverá outras coisas para além da castanha?
R- Tal como disse, além da castanha, a ideia é fixar jovens nesse espaço porque no piso superior haverá vários gabinetes e salas de formação, enquanto o rés-do-chão vai ter uma sala de degustação. Portanto, será um espaço que disponibilizaremos aos jovens, a pensar muito também nos estudantes que saem da nossa escola profissional.
P- Na escola profissional há algum curso com vocação agrícola e que possa também entrar nesta dinâmica?
R- Não há e nós reconhecemos também essa lacuna, embora a escola profissional tenha vindo a crescer. Temos alunos de mais de 26 concelhos de todo o país, estamos novamente muito próximos dos 300 alunos e isso para Trancoso é de uma importância enorme. Estamos muito contentes porque também acaba por abordar uma dinâmica muito grande, mas nas mais diversas áreas. Na incubadora de empresas teremos um espaço disponível quer para os jovens, quer para os empresários que se queiram aqui instalar. Isto levar-nos-ia a falar também da área de acolhimento empresarial inaugurada há pouco mais de ano e meio e onde já temos algumas construções e temos a garantia que no próximo ano e meio serão criados ali cerca de 30 postos de trabalho, que é o que está previsto no regulamento daquela zona. Obviamente que tinham que definir os números de postos de trabalho que iriam criar nos lotes que lhes foram atribuídos e isso é, para nós, a garantia que estamos no bom caminho quer no turismo, quer nos eventos, com a incubadora de empresas, com o acolhimento empresarial noutras zonas industriais com as quais queremos avançar, nomeadamente em Vila Franca das Naves e no Reboleiro.
P- Recomeçamos 20 meses depois com a Feira da Castanha, já estão calendarizados os próximos eventos?
R- Sim. Nós continuaremos a manter todos esses grandes eventos que já vínhamos realizando no mandato anterior e, portanto, a Magia de Natal terá durante três semanas uma animação muito grande no centro histórico. Depois em 2022 iremos manter a Feira do Fumeiro, que será logo no início do ano e todos aqueles que já referi deveremos mantê-los e se possível criar outros, mais no âmbito da cultura e da arte com alguns simpósios e encontros. Não tenho dúvida que iremos manter todos esses eventos que já vimos realizando.