O vasto território do interior carece de políticas e reformas estruturais essenciais para alterar o cenário desertificado e mitigar as gritantes desigualdades face ao litoral densamente povoado e que projeta perfeitamente o nível de desenvolvimento existente num país relativamente pequeno em área. Porque só um sistema, deveras centralizador e corporativista comodamente instalado num território projetado para alguns, é capaz de marginalizar e vetar ao abandono durante décadas 70% de um território com uma riqueza e potencial endógenos e humanos incomensuráveis, capaz de projetar a economia portuguesa internacionalmente e elevar ainda mais a marca Portugal.
Mais recentemente, assistimos a um reconhecimento e projeção maiores motivados pela combinação de múltiplos fatores e pressões, mas sobretudo pelo trabalho das gentes e entidades locais que lutam pela sua valorização no panorama nacional. O turismo e o investimento, sobretudo, imobiliário ganham terreno com os seus prós e contras mas não são a solução primordial para estas regiões que carecem do bem mais precioso que uma nação possui: as Pessoas. A atração e fixação exigem políticas, medidas e incentivos mais consistentes e que dependem, essencialmente, do poder central.
Para alterar tal cenário é fundamental a união, colaboração e articulação estreita e em uníssono de todas as regiões que compõem este extenso território heroicamente conquistado pelos nossos antepassados. Os que objetiva e genuinamente pretendem redesenhar o quadro do interior não devem olhar às cores políticas, interesses, poderes ou corporativismos instalados mas sim convergir em prol de um bem/causa comuns e que, indiscutivelmente, trará benefícios maiores a todo o país.
Também todas as boas ideias e propostas deveriam ser acolhidas e aproveitadas, bem como, ser possível agregar todos os que possuem vontade, iniciativa, competências, paixão e desejo altruísta de alterar o paradigma Interior. Contudo, tal visão não se manifesta em todos os que possuem os meios para tal feito, e partilho por experiência própria pois, num percurso que tem já mais de dois anos, várias foram as entidades públicas onde apresentei algumas propostas e ideias e apesar de consideradas como mais valias e viáveis para implementação não se concretizaram porque têm como principais obstáculos o facto de eu não estar associada a nenhuma entidade, organismo ou empresa e também porque são vistas como “muito difíceis de implementar no terreno”.
Perspetivar um caminho fácil para esta verdadeira demanda revela não só um vago conhecimento, mas também pouca vontade para mudar muito e não ficar tudo na mesma. Da parceria entre todas estas regiões é possível definir um Plano de Recuperação do Interior com medidas e ações concretas e concertadas para projetar e valorizar todos os elementos diferenciadores e com potencial para criar procura numa lógica de conjugação entre o tradicional e o contemporâneo, atingindo a singularidade na diversidade e interioridade de cada região.
Ao atuar localmente e em rede, de certo, alcançariam resultados positivos mais rapidamente e com impacto positivo ao nível nacional contribuindo para um crescimento sustentável da economia portuguesa e respetivo aumento de qualidade de vida dos portugueses. Se não vislumbrar, num futuro próximo, qualquer ação concreta terei que, lamentavelmente, dar como terminada esta minha caminhada de tentar contribuir para uma urgente transformação de um imenso interior ainda por explorar e assimilar, desconhecendo se vivemos num desejado e confortável sentimento coletivo de utopia ou numa realidade que aguarda pelas pessoas e o timing certos para fazer acontecer.
Vânia Catarina Ribeiro